terça-feira, 13 de setembro de 2016

De volta à infância

Resultado de imagem para primary teaching, clipartO presente ano lectivo marca uma mudança na minha carreira.  
 Efectivei no grupo 120, o que significa que, após dezasseis anos de docência no terceiro ciclo e secundário, vou exercer no primeiro ciclo. Por conseguinte, vou deixar de lidar com jovens e adolescentes e passar a trabalhar com crianças.

Não posso mentir. Sinto-me expectante, mas também um pouco apreensiva (o que é natural a qualquer processo de mudança). 

Quem me conhece sabe que terei de modificar não apenas as metodologias e estratégias de ensino, mas também a minha forma de comunicar. 
Terei de moderar o meu humor sarcástico, as finas ironias, os comentários desconcertantes, que tanto me ajudavam com os adolescentes. As crianças não comunicam a esse nível. (os meus filhos, sim -por razões óbvias!!!) No geral, as crianças não entendem duplos sentidos, assumem literalmente o que dizemos. Estão na fase do concreto, é-lhes difícil abstrair. Aqui reside a minha única reserva. 

Quanto ao resto, tenho muito boas expectativas. Reconheço que estou apetrechada com a vivacidade, a energia, o gosto pelas canções, pela mímica, pelos jogos e pelo drama (role playing) necessários à faixa etária. Estou preparada para salas de aula cheias de... calor humano, meninos que vêm a correr pelos corredores fora, que entram aos trambolhões, a transpirar do recreio, que demoram a sentar-se e a organizar-se, que querem falar ao mesmo tempo, que se distraem e que implicam uns com os outros por causa de ninharias que, para eles, são o mundo! "Ele roubou-me o estojo!"; "Professora, ela não me empresta o pink para eu pintar!"
Pintar! Vou voltar ao reino das pinturas, das manualidades, do lúdico, das histórias e das canções... não é mágico?

Argumentam-me contras.
Há quem me diga,

 ah e tal, vais estranhar, não tem nada a ver, não te vais sentir realizada.
Sempre considerei que um bom professor é aquele que é flexível e que se adapta  a diferentes grupos. Da mesma forma que nunca me senti minorizada por trabalhar com cursos profissionais ou com turmas difíceis. Pelo contrário, o desafio é maior e o mérito proporcional à dificuldade da função. Os bons alunos aprendem sozinhos. Os que têm dificuldades ou estão desmotivados é que revelam a arte do professor. Sentir-me-ei sempre realizada se os miúdos evoluírem nas aprendizagens, se se vincularem a mim e se se desenvolverem como pessoas.

olha que não é a mesma coisa, vais ser professora primária...
 Isso quer dizer o quê, exactamente? Se me estão a insinuar algum tipo de desprestígio social... umpf! As if a docência fosse valorizada... à excepção, talvez, do ensino superior, nenhum nível de ensino é profusamente valorizado.  Isso incomoda-me tanto que até estou alimentando a ideia de usar bata!!!

vais ter de andar de escola em escola, a saltitar
também não apanho os vícios de nenhuma, nem tenho tempo para me chatear com os colegas ... e para quem já teve de calcorrear 160km por dia para trabalhar...

os conteúdos são muito básicos, tem de ser tudo muito simples...
óptimo. Menos trabalho na preparação de aulas e na correcção de testes. Menos trabalho equivale a mais tempo para mim. Para acompanhar os meus filhos. Para ler, escrever e ir ao ginásio. É desta que escrevo um romance. Ou me torno campeã olímpica! 

Enfim, a parca experiência que tive neste nível de ensino traz-me boas recordações. 
Meninos  que gostam de se movimentar na sala de aula, que gostam de jogos, que gostam de cantar, de pintar, de ouvir e de contar histórias, 
que (ainda) gostam de aprender 
e que até nos querem dar beijinhos...

Sou capaz de me adaptar aos mimos...

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