domingo, 27 de novembro de 2016

Patinagem artística


Este post tem que ser lido ao som desta música. 
Porque 
se lhe acrescentarem o silvar dos rolamentos no soalho do rinque
têm a banda sonora dos meus sábados à tarde durante a adolescência.
O cheiro inconfundível do pavilhão:
um misto de óleo dos patins com madeira e pó levantado.

Vozes que ecoam, o apito da treinadora, uma ou outra travadela que guincha,
mas sempre os hits dos anos oitenta à mistura:
Podia ser "Listen to you heart"  (Roxette) ou  "Take my breath away"  (Berlin).

 E nós de um lado para o outro va-voom; va-voom;
uma extrema sensação de liberdade
à medida que ganhávamos confiança e maior velocidade;
a alegria eufórica de conseguir uma nova técnica - andar para trás; curvar; travar com os pés e não com o travão.

Podia começar um  "I wanna know what love is"  (Foreigner)
 enquanto a gente treinava figuras mais ou menos difíceis: o carrinho, o canhão (quanto me custava este!!!); o avião; a águia; a taça (sim, conseguíamos levar o pé à cabeça com uma só perna de apoio... ); o temido loop... ("Nothing's Gonna Stop Us Now" - Starship)

A gente chegava ao pavilhão e já o zumbir nos tacos, ao som de "The Time of My Life" ou
"I Wanna Dance With Somebody" da Whitney Houston.

Depois aquecia-se, treinava-se técnicas e figuras em pequenos grupos, divididos, suponho, por níveis etários e de desempenho. "Words... don't come easy"

Por fim, fazíamos fila indiana e atravessávamos o pavilhão em esses e oitos, das mais altas e mais velhas, em escadinha até às mais baixinhas. Eu era alta, mas não tão proficiente quanto a minha altura, pelo que aquele era um momento de verdadeira tensão em que me esforçava por acompanhar o ritmo da cobrinha serpenteante, sem que se partisse no meu ponto. Nessas alturas, a música estava ao rubro. (Já não havia instruções - limitávamo-nos a imitar as figuras das da frente.) Então, éramos só nós, equipa, a deslizar ao som da música e a bancada cheia de pais babados a trautear "I'm still loving you!"