domingo, 23 de dezembro de 2018

Natalar devagar e mornamente

Esteve um fim de semana tão lindo, este que antecedeu o Natal!
Debaixo de um solinho ameno, depois de tantos dias de chuva,
passeei com os meus filhos pela marginal,
fizemos umas comprinhas no comércio tradicional,
ao som de musiquinhas da época,
sem filas,
sem consumismo exacerbado,
sem a voragem diabólica em que se vive esta quadra nas grandes cidades;
visitámos a duendelândia e andámos no trenó virtual,
vimos pais natal a fazer paddle no Cávado,
vimos um Pai Natal a sobrevoar a praia em parapente!
Observámos garças, gaivotas e outras aves marinhas que só o Pedro sabe nomear,
apanhámos seixos na praia que a Maria gosta de pintar,
fizemos marmelada para oferecer,
embrulhámos prendinhas com carinho,
a Mary andou de patins,
fomos à missa abençoar o nosso menino Jesus e trouxemo-lo para casa para nos proteger,
enchemos a casa de cheirinho a canela e vinho do porto na confecção da doçaria,
vimos o ET de lágrima no olho,
deixámos o pôr do sol que prateava as águas do rio dourar-nos a alma.
É tão verdade que as melhores coisas na vida são de borla,
assim saibamos vê-las com olhos de ver.
Grata por tantas bençãos!

Resultado de imagem para marginal esposende natal 2018

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Prendas que não têm preço!

São as melhores!
As prendas que não têm preço, são, cada vez mais, as que mais me preenchem a alma!

Lá na escola recebemos um contingente do lado de lá do oceano, maioritariamente famílias brasileiras, mas também algumas venezuelanas, todos à procura de alguma paz e prosperidade, que as terras-natais deixaram de dar.

Os currículos são diferentes, o calendário lectivo também, de forma que chegam "tarde e mal" e a escola decidiu  - e muito bem, a meu ver - oferecer-lhes aulas extra, uma oportunidade para trabalharem um pouquinho esta semana, para liquidarem essas lacunas e darem o pulinho para acompanhar os colegas, no próximo período.

De maneiras que...
lá estivemos nós, na escolinha deserta, a pôr a escrita em dia
com boa disposição, muito afinco e carinho.

Um grupo que vem 
com vontade de trabalhar, 
que pede mais ("dever dji cása, num taim não?"
e que me mima tanto na sua língua: 
"Oh, Txía! Cê tá linda hoiji!"

Explicar que não chamamos tia e socorrer-me de todas as expressões idiomáticas que me ficaram dos bons tempos em que "assistia novela". 

Digo "num isquenta!", 
quando ficam aflitos com tanta matéria

"Danou-se"
quando falham num exercício

ou:
"Legau!"
quando acertam!

E eles riem e continuamos.
"Sê esquecéu seu caderno? Uai! Qui saco!"
"num veim qui num teim"
"num m'inrola qui não sô onda!"

... e por aí fora.
Vejam lá a minha sorte:
Até tenho uma que se chama, adivinhem,
"Gábriéééla!"


Eu acho que das duas, uma!
Ou eu tenho uma pronúncia tão má quanto a deles em inglês
ou eu falo assim um brasileiro antigo, 
do estilo do que falavam as avós deles na roça...
que, às vezes, nem assim me entendem!

MAIS, dji um jeitu ô du ôtro,
Á coisa vai!

De todos, há uma menina.
Uma formiguinha.
Labuta, labuta, labuta,
como se não houvesse amanhã.
É a aluna perfeita.
Educada, focada, inteligente, sensível, com um sorriso no rosto.

Deu-me a melhor prenda do ano.
Escrito por ela, com palavras de coração.
Uma benção para o ano que se avizinha.

"Que Deus te abençoe
e te dê um ano feliz e abençoado...
Que seus desejos se realizem
e que em sua vida haja
amor, paz e amizade!
Bom Natal e Feliz Ano Novo!"

Comoveu-me, a Natália.
A Natália nem sabe como eram exactamente estas as palavras que eu precisava de ouvir!

Deus te abençoe, também, querida.
Deus te abençoe!



sábado, 15 de dezembro de 2018

F.I.R.E.


Uma Mãe de F.I.R.E.S.
Vamos lá falar de coisas sérias.

Era uma vez uns amigos nossos de praia. 
Gente simpática, educada, de bom trato, bom humor, piadas trocadas na areia, crianças que partilham brinquedos entre toldos e que levamos à àgua ao mesmo tempo, para o chapinhar ser mais largo enquanto os adultos desabafam aquelas arrelias que nos completam as vidas: o meu faz birra, aquele não come a sopa, a minha tem pancada com roupa cor de rosa e por aí vai.

Era uma vez a gente ver crescer os filhos uns dos outros, sazonalmente, mas com carinho e saudade, voltando à mesma praia, todos os anos, como quem regressa a casa, o porto seguro dos nossos afectos, para lavar com àgua salgada a poeira de um ano inteiro a trabalhar!

E, ver chegar filhos novos, desta vez a bebé rechonchudinha a mamar consolada. Olheiras de cansaço e sorrisos de alegria, a família a crescer, que bom partilhar destas conquistas, os amigos que têm um menino e agora uma menina!

Era uma vez o ano seguinte e os amigos que não voltam.
A Isa, a bebé rechonchuda, teve uma febre nesse inverno e a família entrou no inferno. O estado clínico da Ísis precipitou-se, convulsões atrás de convulsões, que ninguém conseguia dominar, como um fogo - FIRE - a queimar o sossego e a felicidade fotográfica daquela família.

Febrile Infection-Related Epilepsy Syndrome,
uma doença raríssima, que levou meses infernais a controlar
é o nome do fogo.

O outro, de que fala este livro e de que vos venho falar,
é o de uma mãe que leva tudo à frente e que arde de amor para ajudar esta menina.
Incendeia tudo, a mãe Carla.
Enfrenta uma comunidade clínica hostil,
chamusca imposições legais,
luta para que lhe validem a administração de canabidiol
à sua menina em fogo,
derrama no papel a dor, mas também a esperança ...

...e aqui estou para atear as labaredas desta fogueira agora.
Esta fogueira de amor,
esta chama de esperança para ajudarmos a nossa bebé da praia.

A Carla, a nossa amiga, escreveu este livro.
É um testemunho de amor, de coragem e de esperança.
Comprá-lo ajuda a financiar tratamentos e convida a uma reflexão sobre estas questões que não nos são alheias.
Porque somos mães.
Porque em dado momento das nossas vidas nos poderemos vir a encontrar com o sofrimento.
Porque, eventualmente, chegaremos a  velhos, em condições que ignoramos.
E, portanto, canabidiol pode vir a ser uma palavra com alguma ressonância nas nossas vidas.
Mesmo se não, há esta mãe e esta família.
E a vontade que temos de voltar a encontrá-los na nossa praia num verão próximo.

Se, de alguma forma, vos sensibilizei, vão à Fnac, procurem este título e comprem.

Ou então AQUI com o código isa10 para desconto!!!


terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Sua excelência, O Leitor!

natal-dos-leitores-2
Durante as quatro dezenas de anos 
que por aí tenho andado de nariz enfiado nos livros
a perder-me 
gostosamente 
por entre estantes de 
bibliotecas, alfarrabistas, feiras do livro e livrarias,
nunca fui homenageada pelo facto de gostar de ler.

Não é que ler não seja Gratificante, um valor em si mesmo.

A Biblioteca Municipal Manuel de Boaventura, aqui em Esposende, brinda a esse vício, nutre-o e premeia-o:
Celebra-se em festa, o Natal dos Leitores, e honram-se os leitores mais assíduos, com leituras partilhadas, um lanchinho e um miminho, claro, com letras.

Faz sentido e é coerente, a iniciativa.

Para mim, repito, que fui e sou frequentadora de várias bibliotecas
 - escolares, públicas, itinerantes, particulares-
em diferentes partes do país
foi inédito e, portanto, surpreendente.

Quando cá chegámos, há sensivelmente um ano, eu e os miúdos apaixonámo-nos logo pela Casa do Arco! Linda, cheia de luz natural, as salas que comunicam, as janelas com namoradeiras em granito, a passagem "mágica" e, claro, as colecções! Toda uma outra casa cheia de novos livros para descobrir. (Viemos a perceber que também era uma casa cheia de livros Novos, com aquisições recentíssimas a conquistar os filhotes!)

No meu íntimo, temi, muitas vezes, deixar para trás uma biblioteca onde os meus filhos deram  literalmente os primeiros passos (não o digo metaforicamente, quero dizer que passávamos lá pedaços de tarde desde que eram bebés, resguardados do frio transmontano em sofás coloridos e de livros ilustrados no colo).
Temi deixar para trás uma amiga, biblioterapeutas uma da outra, a trocar leituras como quem troca pastilhas de vitalidade e esperança.
Temi perder uma certa forma de privilégio, advinda da familiaridade. Pensava: nunca mais me deixarão trazer sacos cheios de livros, requisições a granel, com o à-vontade de prazos porque, se necessário fosse, a amiga nos renovaria os empréstimos sem sequer lá irmos.
Pensava: nunca mais vou poder aparecer  na biblioteca de mãos a abanar, porque me sabem o código de leitora de cor, o meu e o dos miúdos, pelo que posso requisitar sem cartão nem nada. Porque os nossos números estão no coração de alguém que bem nos conhece e recebe.

Um ano depois, 
ainda tecendo uma amizade verde, 
mas bem acolhidos e de leituras bem facilitadas
sentimo-nos muito bem nesta nova casa. 
Os privilégios foram-nos todos concebidos - podemos requisitar cinco livros por cartão, encher o saco do costume - nem só de pão vive o homem e a gente cá em casa vai quase tanto à biblioteca como à padaria! Como devolvemos uns e requisitamos outros, está lá o número e ninguém nos pede o cartão, é quase como já ser da casa, e deixam-nos à vontade e até já nos renovam, se a gente se atrasar.

E, para além de tudo isso, uma festa em nossa honra!
Com diplomas e tudo!
Honra a nossa usufruir de um serviço público de qualidade.

E vocês, têm frequentado a vossa biblioteca municipal?