segunda-feira, 14 de maio de 2018

Saga Vida Nova- Nortada

 
Brisa. 
Aragem.
Corrente de ar.
Vento.
Ventania.
Rajada.
Vendaval.
Furacão.
Ciclone.
Tufão.




Quando chegámos a esta casa, 
achei curiosa a existência de umas pedras de tamanho considerável no terraço. 
Pensei "p'ra que raio é que eles haveriam de querer estes pedregulhos?"
É que aquilo não tinha aspecto de ser decorativo. As pedras eram grandes de mais e rugosas de mais para adornarem fosse o que fosse. 
Assim que abri o estendal... percebi!
Os pedregulhos são essenciais para conseguir que a roupa lavada não levante voo!!!!


Enfim, só agora compreendo realmente na pele (!!!) o verdadeiro significado da expressão o vento fustiga.

Perguntar-me-ão,
mas tu não ias para Esposende quando eras pequena? 
Não sentias o vento a bater-te nas pernas quando corrias pela duna abaixo, 
não levavas com ele nos lábios roxos quando saías do mar a tiritar e a dizer que a água estava boa, não comias o pão do dia anterior com marmelada polvilhado de areia da nortada?

Sim, mas aí não tinha a percepção de que isso era doloroso. Era a infância feliz e não era uma brisasinha que me ia impedir de apreciar a praia com os primos.

Agora compreendo.
Que custa mais caminhar contra a nortada.
Que, à vinda, a Maria nem precisa de levantar os patins do paredão para chegar a casa - vem empurrada pelo vento, sempre a rolar!!!!
Que com um guarda-chuva na mão corro o risco de levitar sobre o Cávado;
Que mesmo o veículo em que me desloco (a que chamo carro, mas é sabido ser um verdadeiro tanque de guerra, grande e pesado) vacila na ponte de Fão. 
Que aqui praia é sinónimo de tapa-vento. Ou barraca. 
Que a Nortada até despenteia carecas.
Que, por falar em despentear, a aragem me traz sempre as melenas revoltas. Das duas uma: ou fico com um ar selvagem e arrebatador; ou é desta que mandam alguém do hospício atrás de mim!

Agora compreendo, at last
Que ou ponho os pedregulhos nas bases do estendal
ou tenho de ir resgatar os nossos trapitos a Viana!

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Ironia do destino

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Como já por cá ando  há uns tempinhos, já há muito percebi que a vida dá muitas voltas e que não há como escapar à ironia do destino

Também já percebi que rir é o melhor remédio e, portanto, quase sempre encaro com um se-não-fosse-cómico-era-trágico!!!

Eu estive, praticamente, dezassete anos em Bragança.
Na primeira década e picos concorria para me aproximar da minha terra natal - Braga.
Por uma questão de estabilidade, fomos leccionando no nordeste transmontano.

Ironia do destino,
assim que desisti do litoral, começou a ser difícil ficar colocado em Bragança!
Os anos foram rolando e depois de algumas cambalhotas decidimos vir para baixo. 

Ironia do destino,
no ano em que desço, surgem duas vagas para mim no centro da cidade de Bragança. 

Deixa-me rir!

Sabes que mais, ironia do destino?

Já não faz diferença.
Tarde de mais.
Respondo-te com um sorriso grande.
De marmita em frente ao mar, de pés descalços na areia molhada em tardes de inverno,
de caminhadas e bicicladas em família por uma marginal deslumbrante,
de céus estrelados rasgados pela faixa intermitente do farol,
de refeições e trabalhos de casa feitos na mesa do terraço,
de um filho que marca mais golos nesta equipa
e de uma filha que aprendeu a andar de patins ao vento.

Respondo-te de sorriso nos lábios
cheios da proximidade do meu velho pai
da minha mana cúmplice
do meu afilhado docinho.

Somos livres.
O destino pode soprar com ironia
que a gente,
como já cá anda há uns tempinhos,
já aprendeu a ser feliz na mesma.