quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Celebrar

 Assim.


Sem mais nem menos.

A meio da aula. Interrompendo um exercício.

O meu menino especial (dificuldades cognitivas e de atenção), que até nem estava a usufruir muito da aula por se ter esquecido do material e não poder partilhar o livro devido ao Covid...


"PARABÉÉÉÉÉNS TXITXA!!!"


Parabéns? Porquê lindo? Eu não faço anos!


"PARABÉNS POR ESTARES AQUI A DAR A NOSSA AULA. PODIAS NÃO ESTAR!"

Como? O que queres dizer?


"ISSO TXITXA! PARABÉNS POR SERES A NOSSA TXITXA!"


Oh, meu querido!!! Tens razão! Tenho muita sorte em ser a vossa txitxa!!!

E não é que começaram todos a bater palmas?

Se isto não vale ouro e eu sou muito rica... não sei o que vale!


domingo, 27 de setembro de 2020

Alegria vírica

 A escola arrancou

Os pais suspiraram de alívio

A  atividade económica agradeceu

E o Covid continuou


Eu passo aos miúdos toda a serenidade que não trago cá dentro;

Finjo com os dentes todos que não veem atrás da máscara e literalmente mascaro a apreensão e hipervigilância que borbulha cá dentro: "Não metas isso à boca"; "Desinfetaste as mãos, lindo?"; "Já lavaste as mãos para comer'"

A loucura de ter vinte e tais filhos menores à vez e tentar protegê-los de uma pandemia sem lhes impor outra - o stress, a ansiedade, o pânico.

Confesso que em muitos momentos isto me tem assoberbado e que me sinto exausta se ainda agora começamos...

São tantas as contingências - salas de janela aberta, máscaras a esconder sorrisos, intervalos condicionados, cotoveladas a crianças que nos querem abraçar... que no final da primeira semana dizia "não queria estar a viver a escola assim"

No entanto, as crianças são mágicas. Conquistam-nos, recentram-nos e desmontam-nos. Vivem da forma mais pura e natural. 

E eu adoro ensinar.

Por isso, consegui voltar a ser feliz na sala de aula e, apesar de ter um caso com o álcool gel, quase sinto a normalidade das nossas risadas e partilhas.

OH TXITXA

(diz me uma assim que entro na sala de aula, no último tempo da tarde)

Eu tou muito constipada!!! Já viste o papel que eu gastei só depois do intervalo?

E exibe-me orgulhosamente o saco cheio de vírus, trofeu pessoal a despeito de desinfeções, higienizações ou contágios.

Todos acharam aquilo deliciosamente hilariante menos eu que lhe pedi para ir deitar no lixo e desinfetar bem as mãos no fim.

Ela foi. Preparando-se para dar com o saco na cabeça da colega que ria à gargalhada, não fora eu intervir!!!