terça-feira, 25 de outubro de 2016

Luto

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Fiz o luto da morte da minha mãe numa biblioteca pública. 
Não há nada de romântico no que acabo de dizer escrever. Foi exactamente assim que aconteceu.
Numa tarde de outono, presa ao texto, nó na garganta, olhos ensopados, a carpir abrigada e abraçada por estantes.
Todas as lágrimas que não verti nas cerimónias fúnebres se purgaram ali, num cantinho, ao fundo, de livro na mão. 
Era para corrigir testes. Peguei no "Morreste-me" do Peixoto e li-o de uma assentada, baba e ranho. Estava tudo ali. A doença. A indignação. A raiva. A dor da perda.  A consternação. A ausência. O abalo que a orfandade traz à nossa identidade. A Saudade.
Eu não sabia que (ainda) trazia tudo aquilo cá dentro. Eu tinha apenas ido corrigir testes. Já tinham passado dois anos; a minha vida prosseguira - com o que eu considerava ser uma boa alcatifa de resignação da minha parte. Havia que prosseguir. Cuidar dos filhos. Responder às exigências da profissão; dedicar-me aos alunos. Apagar alguns fogos (metafóricos) em vidas que me são próximas. Seguir em frente. Ser como ela. 
Naquela tarde estava apenas a fazer isso mesmo - a levar a vida para a frente, a bulir. Havia-me refugiado ali para ser mais produtivo o trabalho. Não contava com aquilo.

Ler é transversal à minha existência. Em muitos momentos da minha vida o amor aos livros me ajudou a encontrar-me, a compreender-me e a reconciliar-me comigo própria.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Casal Desavindo

Resultado de imagem para when you feel like quitting thinkA frase surgiu-me num qualquer site de motivação fitness, mas desde então ressoa-me verdades em vários aspectos para além da manutenção da forma física. 

Quando te apetecer desistir,
pensa naquilo que te fez começar

Aplica-se, como todas estas frases citáveis e generalistas, a muitas outras situações e adversidades da vida. Nomeadamente às relações pessoais.

No outro dia vi-vos tão descasados, tão desavindos, tão magoados, tão de costas viradas, que me lembrei de vo-la dizer. Por isso, escutem-me, casal desavindo.
Aqui vai.

Não se agridam mais. Deixem-se de ironias, de boquinhas, de ressabiamentos. Isso não vos leva a lado nenhum. A única linguagem que vale a pena concretizar é a do amor. Mesmo quando ele está a acabar, mesmo quando está por um fio. Precisamente porque está por um fio. Respeitem o que vos uniu, nalgum momento. Respeitem o que vos encantou um no outro. Houve alturas em que aquela pessoa que agora vos é tão hostil era o vosso mundo. O tudo. Lembrem-se das qualidades que vos atraíram um ao outro. A vida deu voltas? Cambalhotem um com o outro, não um contra o outro. Ninguém tem culpa das voltas que a vida dá. Dêem-nas juntos, não se empurrem. Não se acusem. Unam-se. 
Apetece desistir? Pensem no que vos levou a começar. É a máxima de um maratonista, pode ser também a vossa. O casamento é uma corrida de fundo. Qualquer um faz um bom sprint inicial. O pior vem depois. O cansaço, o esgotamento, a desmoralização mental. Todos os maratonistas pensam em desistir. O que distingue os campeões é que resistem, mantêm-se fieis a um objectivo - focados, não obstante as tonturas, as pernas trementes, as bolhas nos pés, o corpo a querer desfalecer. Comprometidos com o seu sonho. Tal como a corrida, o casamento também é um compromisso. Exige, como na maratona, resistência, perseverança, nervos de aço, determinação, resiliência. O maratonista supera-se a si próprio. Já o fizestes?
Vi-vos assim desamados e ressentidos e quis poder sarar-vos, reconciliar-vos. Entristeceu-me. Acho sempre tão triste um amor desperdiçado.
Quereis que vos recorde o que vos fez começar? Era divertido estarem juntos, achavam-se mutuamente lindos e inteligentes, queríeis criar uma família que fosse a razão de ser do vosso viver. A mim parece-me que, no que é fundamental, nada gorou. Por tudo isso, amigos, voltem ao princípio. Centrem-se no que é fundamental e deixem-se de balelas. 
Reset love!

sábado, 22 de outubro de 2016

Meia Estação

Resultado de imagem para autumn, clipartChamam-te meia estação, mas tu vens inteira. 
Com tudo a que tens direito.Chuvas, ventos, frio, àguas muitas,ventos fortes. Queres mostrar que és inteira, de direito.
Não há metades se te apetecer tormentas, vendavais.

Outono, chamam-te meia estação, mas tu vens com toda a tua fúria de intempéries, fora e dentro das gentes. Perguntem a quem sofre dos ossos, da coluna, dos joelhos, a quem tem enxaquecas, aos esquizofrénicos, aos bipolares, aos deprimidos. Observem os autistas. Perguntem às pessoas sensíveis que impacto tens nas suas vidas. Não é meia estação nos transtornos psíquicos. O outono traz tempestades internas. Deixar o morno salitre estival estalar.

É a época da renovação, dizem. Levas folhas e cabelo, alagas vindimas, derrubas ouriços, agitas marmeleiros.
Fica o vinho, a castanha, a marmelada. Para quem resiste ao turbilhão em que chegaste.

Outono, estação inteira.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Fora de horas

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Só uma working mom percebe que há expressões absolutamente despropositadas
Fora de horas, por exemplo.

Quem tem ou teve bebés, ou quem tem filhos para conciliar com uma vida profissional, sabe que é perfeitamente natural inundar a casa com cheiro a nabiças fervidas para a sopa às sete da matina, ou estender roupa à uma da madrugada, ou almoçar às três da tarde porque "não deu" antes...

A gente queixa-se de que a memória vai falhando, que já não tem a paciência que tinha, mas parece que se vai dando conta do recado.

Eu sou aquela mãe que já deu o pisca a fazer uma curva e que tentou abrir a porta de casa com o comando do carro. A que preparou dois lanches e enfiou tudo na mesma mochila, deixando um dos filhos aflito para dar conta de tanta comida e outra desprovida de mantimentos. Falta de sono, muita coisa em que pensar.

Conheço uma que tinha o filho pendurado na mama e, sobressaltada, procurou por ele - "O meu filho, onde está o meu filho?". Não fosse o diabo tecê-las e o garoto meter a mão nalguma tomada ou bater com a cabeça numa esquina! Ao colo!

Quando éramos pequenas riamo-nos muito de uma tia (bem querida) que tinha quatro - quatro Deus meu!- e nunca acertava nos nomes à primeira. "Isabel, Cristina, Rita", atirava até acertar no alvo: "David, chegas aqui, por favor?"
Compreendo-a muito bem, agora. Entretanto também já aprendi a linguagem do "coisar", de que ela se socorria a toda a hora. "Vou ali ao coiso coisar coisas para fazer coisa", por exemplo. Que não é mais do que "Vou ali ao supermercado comprar cenouras para fazer sopa". Evidente, não?

Danos colaterais de uma vida a mil em que não há fora das horas.
Fora de horas só existe para quem as tem. Para nós, a quem as horas parecem não chegar para tudo, todos os minutos são dentro.
Por isso, não é absurdo acabar um relatório às duas da manhã, beber sopa ao pequeno-almoço ou pintar as unhas no carro, a caminho do casamento da prima, enquanto o marido conduz. E antes que me perguntem se a história da sopa é verídica, sim, já o fiz, porque para aguentar este ritmo há que ser mãe vitaminada, não importa quando. Para além do mais, como dizia um primo meu quando a mãe lhe vinha com o não-comas-isso-a-esta-hora, "o meu estômago sabe as horas, por acaso?"


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Raise your hand for God's sake! Não interrompam pelo amor da Santa!

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Razões INADIÁVEIS para um aluno do primeiro ciclo interromper uma aula e me pôr os nervinhos em franja:
(mantra auto-induzida para que a aula corra bem: são crianças, Marta, são crianças)

1) Apertar os cordões
Professoooraaaaa...
(a meio da aula)
Diiiiiiiz!!!
Podes-me apertar os cordões?
(o "tu" a fazer-me comichão...)
Para que precisas de apertar os cordões agora, se estás sentado?
(olho para o lado, está de pé, junto a mim!)
Posso cair...
(eu, bufando, mando-o sentar-se)
Mas, neste momento devias estar SENTADO, a fazer o exercício; depois, quando fores sair para o intervalo, aperto-te...
Resultado de imagem para giant penMas eu assim caio...
(rrrrrrrrrrrrrr)

2) Tralha, quer dizer, material
Eles a-d-o-r-a-m TRALHA!!!!! 
Lapinhos, borrachinhas, canetas e canetinhas, 
com mil cores e com cheirinhos,
brilhos e purpurinas,
estojos com três andares, 
sininhos para pôr na pontinha dos lápis e fazer um tlintlintlim irritante, empolgante enquanto escrevem!
Canetinhas com acessórios, apliques e bugigangas - estrelinhas de  pôr e tirar, mil botões com funções infinitas... suspiro! Tralha para se distraírem...
Convenhamos... eu VI um garoto a escrever, tentar escrever com uma caneta gigante, do diâmetro de uma bazuca, a verdadeira caneta-canhão...
Aggghhhhh!


3)Actualizações de última hora
A meio de um texto... Urgentíssimas e inadiáveis, do género:
"Professoraaaaa, a minha tia faz anos hoje!"
"Professoraaaaa, ontem o meu pai comprou uma camisola nova..."

"Professoraaa, eu, no domingo faço anos..."
(Que é que a gente responde? fixe para ti? traz-me uma fatia de bolo?)

"professoraaaa, pintaste os olhos?" e logo outro "pintou, pintou, pareces uma bruxa!"

3) Queixas
"tixer - isto é teacher à moda deles - o Hugo não pára de dar pontapés na minha cadeira...."
"tixer, o Valentim não me dá a minha borracha..."
"Professoraaaa, o João está a fazer carinhas..."
(cada um para o seu quarto, já!
 Eh, pá! Aqui não dá!)
 

4) Eficiência e perfeccionismo não autónomos
"Professoraaaa, de que cor é para copiar?"
"deixamos uma linha?"
"tixeeeeer.... enganei-me!"

"Professoraaaa, já acabei..."
"Professoraaaa, pode corrigir?"
e a que realmente me MATA:
"é para fazer em inglês?"

5) Razões escatológicas
Não, não se prendem com o pensamento filosófico sobre o fim do mundo; é mesmo xixi e cócó, dito tal e qual à luz  do dia, sem pruridos nem pudores, diante da turma toda. 
Agora já me vou habituando à ideia de trabalhar com o rolo de papel higiénico ao lado, mas não imagino a minha cara, em estado de choque da primeira vez que mo vieram pedir... 
Acontece que, se disponível nas casas de banho, as crianças entopem tudo, por necessidade ou brincadeira, pelo que... tem de ser um adulto a dispensá-lo.
Ora, esse adulto sou eu, mas não me tinha ainda consciencializado disso. 
(Ainda me parece estranho, mas agora já não interrompo tanto a aula... Estão a ver aqueles rolos industriais? Vou desenrolando um pedaço e continuo, como se nada fosse, "listen and repeat: brown chestnut" e eles "brown chestnut" e a outra, a da necessidade: "já chega de papel, professora, não é para cócó, é só xixi!!!")

No outro dia, em desespero de causa, avisei-os que chegava de interrupções, que não queria mais queixinhas, nem blablablás, a menos que fosse mesmo urgente, tinha de estar alguém a passar mal e a precisar de socorro. "Há sangue? Se não há sangue, não se interrompe!!!!!
(Eles riram-se, terão percebido o sarcasmo?)
E não é que cinco minutos depois uma conseguiu cortar-se com a tesoura? A chamar-me, a chamar-me, de língua de fora, ensanguentada... lá arranjou motivo válido para interromper!

domingo, 16 de outubro de 2016

Deslize

Random International. Rain Room. 2012. Photo courtesy of the artist
Random International. Rain Room. 2012. Photo courtesy of the artist
Às vezes a vida puxa-te o tapete.
Ou até estavas atento e evitas a queda
ou escorregas mesmo e cais.
Neste caso tens duas hipóteses:
deixas-te ficar estatelado
ou levantas-te, sacodes a poeira e segues.
Levantas-te e voltas a ter duas hipóteses:
ficas a remoer no tombo que deste
ou aceitas que faz parte do percurso
e prestas mais atenção no futuro.
Mesmo assim, podes cair outra vez.
Mas, sabes que mais?
Voltas a ter duas hipóteses!

Calcinhas de regar o milho

Resultado de imagem para cropped jeans2016Quando éramos pequenos e o corpo nos começava a sobejar na roupa,
a gente gozava uns com os outros - 
perguntávamos: "não havia para o teu tamanho?";
perguntávamos: "é da tua irmã mais nova?";
perguntávamos: "usa-se assim, justinho?";
(finalmente e de particular relevância para o desabafo que aqui me traz hoje)

perguntávamos: "vais regar o milho?"

Quando as calças já não tapavam os tornozelos, as nossas mães descosiam-lhes as bainhas ou enfiavam-nas dentro das galochas. Soluções engenhosas para contornar a curta longevidade de roupas que não esticam em corpos que crescem depressa.
Portanto, calças curtas eram um problema.
A meu ver, ainda o são.

Resultado de imagem para cropped jeans, clipartEu sei que as calças cropped estão na moda. Fui tentar comprar umas calças básicas e por mais que experimentasse não encontrava nada que chegasse lá abaixo. Dava a impressão que tudo havia encolhido. Eu sei que está na moda, mas... Sob pena de todas as minhas miguinhas gurus de moda me caírem em cima, passo a explicar as minhas reservas. 

1) Cotos
Quem como eu foi favorecido com umas perninhas magrelas que lhe valeram a alcunha de "tíbia" durante alguns dolorosos anos da pré-adolescência, tinha nas calças "normais" a vantagem de cobrir os ossinhos e parecer mais refeitinha. Ora, as cropped salientam-me o meu melhor ângulo: o ossudo saliente tornozelo e a pontinha da canela reluzente!

2) Depilação
Outra vantagem de usar calças em vez de saias, era ocultar a selva amazónica, sempre que a vida atarefada impedia a desflorestação. Ora agora... há aqueles 5cm de perna à mostra, que te vão obrigar a gastar 20 euros e uma preciosa hora de lazer todos os meses.

3) Meias
Tendo em conta a limitação que o ponto anterior nos impõe, das duas... três: ou temos tempo para ir à esteticista (definitiva ou temporária), ou sacamos de uma gilete de urgência a caminho do serviço, ou teremos de escolher um par de meias!
A vantagem das calças clássicas, vulgo, inteiras, era tapar as peúgas com borboto ou aquelas com estampados duvidosos que as tias nos dão no natal... E agora? Qual o destino desses monos com as calças cropped?

4) Meteorologia
Enfim, curtas, a expor o fim da perna à aragem gélida da montanha... se calhar, aqui por detrás dos montes é capaz de não ser a tendência ideal...


5) Economia
A pergunta impõe-se: Porquê pagar inteiro e trazer só (quase) metade? 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

De valor

Tu não o sabes, mas ontem foste celebrada no meu íntimo. A doce memória desse enaltecimento ainda salpica o meu dia, hoje, como pequenas gotículas de água de uma rega automática que aspergisse o meu ser, a minha mente, a minha alma. É uma humidade prazenteira, saudável, que hidrata a secura da minha pele. Sabe bem lembrar. Como não sabes, vou-te contar.

Escrevo isto ao lado de uma escola primária. é intervalo e as crianças brincam no recreio. Gritos, corridas, areia, gargalhadas e baloiços. Apetece-me ir brincar com elas. Remexer na areia. Pular ao pé-coxinho. GUIN-CHAR! Vasculhar nas folhas secas que o outono distribuiu pelo solo. Deslumbrar-me com um qualquer insecto invulgar que poisa num canto. Cabeças juntas a explorá-lo. Olha para elas! Eufóricas. Bom ser pequeno! Têm a tua alegria. Devolvem-me a ti, pelo sorriso.

Ontem, na tua casa, olhei para os teus filhos e pensei que entendo porque são crianças dóceis, meigas e em paz. Recebem-na de ti, de vós.

Ontem também, quando chegaste a casa, beijaste o teu marido nos lábios. Cheguei ao mesmo tempo que tu e, por isso, assisti. Ninguém me contou. Estava à tua porta, ia a tua casa, encontrámo-nos na rua e subimos juntas no elevador. Eu, tu e a tua filhota. Era tarde, estarias cansada, ela também. E ainda assim, carinho. 

Ao abrir a porta de casa, um ser que rejubila ao ver-vos chegar. Saltita e abana a cauda. Alegria de quatro patas. Amor incondicional- um coração que bate descompassado ao ver-nos, que se pode desejar mais?

Gostei de entrar em casa convosco. Boas energias. O teu filhote a preparar a salada para a família, pantufas e dedos aprumados a cortar tomate. Mesa posta à vossa espera. Era tarde. Era hora de deitar, estavam as rotinas atrasadas- poderia ser caótico, tenso, mas não; havia ordem e serenidade. 

Celebrei interiormente aquele momento de família. 
Curiosamente, nesse dia, já tinhas sido celebrada em mim, sem o saberes. Quis dizer-to neste texto. Sabe sempre tão bem ouvir o bem.
Foi de tarde, na Modalfa. Fui trocar umas calças de fato-de-treino para a Maria. Calculei mal o tamanho. Julguei que um 7/8 acomodaria os seus seis. Enganei-me. Eu engano-me muito. Tenho sempre a sensação de que passo a vida a tentar trocar peças erradas, a falhar nos golpes de vista, a tentar pôr ordem nas coisas e que raramente acerto. (O jugo do meu perfeccionismo a atormentar-me)

A menina estendeu-me o talão da troca e pediu-me uma assinatura. Não a reconheci ou não percebi que era suposto saber quem era. Gracejei que lhe dava minha rubrica sem esforço e à borla, porque não era famosa e não valia muito o rabisco. A resposta dela apanhou-me de surpresa.
"Nunca se sabe, ainda poderá vir a sê-lo" (famosa)
"Como assim? Dificilmente...", respondo reticente.
"Pela sua escrita, no blog!"
Não percebi como tinha chegado a ler-me e foi então que me falou de ti. Leu-me através de ti, na rede social. Então falámos de ti. Nunca menos que "das melhores pessoas que conheço"; "um anjo"(ela); "o meu anjo da guarda" (eu); "um bom coração"; "um coração enorme"; "sempre disponível"; "uma boa amiga" e por aí fora. Foi bonito. Estávamos as duas a dizer a mesma coisa, a concordar uma com a outra, a acrescentar louvores e, no fundo, a celebrar-te. Faltavas lá tu e merecias ouvir. 
Portanto aqui tens. Pessoa de valor.

sábado, 8 de outubro de 2016

A fúria do andarilho

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Eu, Maria Eduarda Dolores das Cruzes declaro que estou deveras desgostosa com a minha avó!


Já não bastava ser chamada ao infantário três vezes por semana por causa das mordidelas matreiras do meu Dioguito, ou porque rouba as chupetas aos colegas, ou porque besunta as pinturinhas perfeitas da Constança, ou porque puxa as tranças à Quicas, ou porque derruba as torres de legos do José Maria... 

Eis se não quando percebemos que tem de ser a tremenda carga genética da avó Gertrudes, a propósito da qual fui chamada esta semana ao lar, sob ameaça de expulsão por mau comportamento!

É verdade! A avó Gertrudes... pintou a manta, ficou piursa, perdeu as estribeiras, foi aos arames, passou-se dos carretos... saltou-lhe mesmo a tampa como nunca jamais e foi o cabo dos trabalhos para a deter. 

Agora que, noventa e três anos volvidos, pensávamos que, finalmente aquela alma em chama havia recolhido aos xailes e encontrado algum refúgio no tricô,  ei-la que  agride a parceira de quarto com o andarilho, aparentemente por uma questão de agulhas. 

Está bem que ela andava toda entusiasmada a aprender malha para tricotar uns carapins para o recém-nascido da ex-enfermeira-cuidadora-(agora-de-licença-de-maternidade).

É óbvio que é injusto que a Dona Florbela lhe tenha assaltado os novelos para fazer um gorro para o décimo quarto neto.

Mas, valha-nos Deus, não podiam ter acertado agulhas sem violência, sei lá trocando impropérios verbais, nas vozes roucas e gastas, trocando até de dentaduras voadoras, num desaforo mais violento e arrojado... não sei. Agora... isto!

De castigo terá de prestar serviço comunitário para se redimir do arremesso do andarilho à corcunda da outra e está proibida de frequentar as aulas semanais de downhill.

Diz que não se importa. 

Escolheu os bombeiros para cumprir a pena. Quer colaborar com os meios aéreos de prevenção aos incêndios. Diz que assim pratica o bem e não abandona o desporto. Na ideia dela vão deixá-la fazer para-quedismo sobre florestas a arder! 



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sexta-feira, 7 de outubro de 2016

"A professora com mais estilo"


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Aparentemente sou "a mais" em algo na vida.
Isso seria fabuloso se efectivamente correspondesse a algum tipo de virtuosidade que me conferisse real vantagem em determinada esfera, neste caso, o aspecto físico.
No entanto, como "em terra de cegos, quem tem olho é rei"... cá me fico com a medalha de cortiça! Vale o que vale, mas cada um fará o seu juízo de valor.

Refiro-me à seguinte SMS de uma vizinha e amiga, cujo filho frequenta uma das escolas onde vou:
"Tenho-me fartado de rir com o meu filho. Ele diz que és a professora com mais estilo da escola, "com os seus oculinhos (de sol), com os sapatos de salto alto e a carteira pendurada no braço. A dramatização da tua entrada triunfal é de rir!Ele nunca te tinha visto a desempenhar a função!"

Parêntesis para reflectir sobre a essência da aparência:
(Ou seja, o miúdo nunca me tinha visto sem fato de treino e mola na cabeça! O que me leva a concluir que tenho de repensar o meu look, mesmo em modo parque.  que é onde nos encontramos normalmente... Afinal uma mulher que faz vindimas com manicura francesa, tem de ter mais cuidado com a apresentação em qualquer circunstância)

Agora... aqui entre nós,  a mim não me encheu muito as medidas o superlativo...
É que não é difícil ser a professora com mais estilo em escolas que estão povoadas de profs que ...como direi? Já não têm menstruação!

É a vantagem de pertencer a uma classe profissional envelhecida. As minhas colegas têm todas idade para ser minhas mães, para não dizer minhas avós. Ora, como não brilhar assim?

Segundo os recadinhos dos miúdos tenho mais atributos para além dos oculinhos de sol. E esses, sim, enchem-me a alma!