sábado, 29 de abril de 2017

Da montanha para o mar

Candidatura submetida.
Dados lançados.
Suspiro.

Assim se atira uma vida ao ar.
Quem muda Deus ajuda.

Vai correr bem.
Vai correr mal.

O que fica. O que virá. 

Um turbilhão de emoções cá dentro, uma energia vital que vou buscar não sei onde, para acreditar que o mar, o meu mar me vai trazer luz, renovação, nova energia. Dizer uma lufada de ar fresco era apropriado, mas atendendo a que o destino-alvo é Esposende nortada há-de ser mais exacto que lufada!

Vou mudar!

Trocar botas de neve por barbatanas,
amendoeiras em flor por pinhais,
geadas por maresia,
posta de vitela por posta de pescada,
giesta por sargaço,
alheiras por lampreia,
butelos por polvo fresco,
castanhas por clarinhas de Fão,
serras por dunas,
milhafres por gaivotas,
montanha por praia.

Vou enterrar na areia macia os pés cansados das voltas que a vida deu
Deixar que a brisa marítima me limpe os pensamentos
Que o cheiro do mar me encha a alma
que o rumor das ondas me aconchegue as mágoas,
que a visão daquele azul infinito
me preencha espaços que alguém que o amava deixou cá dentro
e que a espuma das ondas dissipe a saudade.

Nada acontece por acaso.

Sei que, do sítio onde estás,
vês...mais alto.
Sei que, a vir ter com os teus netos,
preferirás fazê-lo na praia que tanto amavas.
Sei que te encontro mais depressa no areal ventoso
e que, quando for dar uma caminhada pela marginal,
estarás ao meu lado, com as nossas duas mãos magras bem apertadas,
dedos interlaçados, num dos quais ainda trago a tua aliança.

Vou ter contigo.