sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Largada do Abutre Negro nas Arribas do Douro

A imagem pode conter: céu, ar livre e naturezaA imagem pode conter: montanha, céu, ar livre e natureza

A gripe tombou-me na cama há dois dias.
Ontem, na sala de espera para ser atendida pelo médico, com a cabeça a latejar e arrepios de frio, escuto a voz de uma amiga a sair da televisão. 
Levanto os olhos doridos e vejo a peça da Silvia Brandão sobre a largada do abutre negro nas Arribas do Douro. Numa palavra, a ave foi resgatada, cuidada, recuperada e era, agora, devolvida ao seu habitat natural. 
Se há uns anos me dissessem que um abutre haveria de me comover, eu diria que só se estivesse a delirar de febre. No caso, também estava.
No entanto, eu já passei por uma experiência assim e vieram-me as lágrimas aos olhos. Foi em Vimioso, para aí em 2011. Fui com uma turma ver soltar um Milhafre Real, que havia sido resgatado e sarado pela malta da UTAD ou do Parque Natural das Arribas do Douro, já não me lembro. Quando vão devolver estas aves à natureza, avisam sempre as escolas, que seleccionam uma ou outra turma para assistir. Dessa vez, o privilégio foi meu.
Os monitores tinham pedido silêncio e os miúdos acataram, pelo que a largada se tornou algo solene e sagrada. Quando vi aquelas asas expandidas em céu aberto, aquela recuperação de liberdade, aquele voltar para o sítio certo... comovi-me profundamente.
E, pronto, era só isto.
Podia fazer metáforas sobre a libertação do abutre selvagem agrilhoado; podia enumerar os benefícios que esta experiência tem para os alunos; podia relatar memórias dos meus anos de docência por detrás e entre os montes; podia fazer elações poéticas sobre a doçura que cabe numa voz amiga vinda de um televisor numa sala de espera de um hospital quando estamos a arder em febre. Mas não.
Hoje era só mesmo para dizer que uma ave retornada à montanha é um espectáculo arrepiante e majestático.

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