Pois não foi pela quarentena desta quarentona; foi que efectivamente estive sem computador.
E, num piscar de olhinhos o nosso mundinho deu uma cambalhota tão grande que a gente leva tempo a recompor-se. O meu, em particular, fez um flic flac atlético.
Não é que eu não tenha escrito. Não posso viver sem escrever.
Mas não por aqui.
Portanto, o mundo está parado, estamos fechados em casa e há uma pandemia a ensombrar as nossas vidas. Há medo de contágio, há ansiedade e stress pelo confinamento, há saudades dos que amamos e alarmismos histéricos nalguns meios de comunicação social. Depois, claro, estamos todos em rede. Vemos tudo, ouvimos tudo, panicamos mais. Eu acho que a esta altura já todo o comum mortal "covidou" de alguma forma, ao mais leve espirro ou catarrito, mesmo que tenha fumado volumes de Português Suave durante esta vida e a outra.
Claro que esta que vos fala já deu consigo a lavar laranjas com Fairy como quem esfrega tachos e a deixar os pacotes de leite de castigo na garagem por uns dias, até haver paciência para a lixivização. Portanto, também panico.
O meu filho costumava divertir-se a dizer que não conhece mais ninguém que se divirta a limpar, isto porque eu digo coisas como: "Ia só dar uma aspiradela, mas entusiasmei-me" (ele acha inacreditável que alguém se entusiasme com limpezas!)
Portanto,para além de eu já ter em mim algo de obsessivo compulsivo em relação a limpezas, imagine-se o agudizar da higienização. É como fazer as limpezas da Páscoa, sem haver páscoa!
Tenho as mãozinhas e os olhinhos a arder das desinfecções, mas não há interruptor, comando ou maçaneta que me escapem!
O calçado fica lá fora. Os sacos das compras não saem da garagem. Confesso que até a roupinha que trazia no corpo já ficou integralmente na garagem, depois de ter ido ao hipermercado.
Ah não é agora este vírus que me vem ensinar a higienizar! Sou filha de uma mulher que levava tudo à frente dela, limpava tudo, tinha nojo de tudo, uma mulher que não nos deixava por a mão em corrimões; uma mulher que atravessava a cidade em salto de agulha com duas filhas pequenas pela mão por ter nojo de andar em transportes públicos; uma mulher que dificilmente comia em qualquer tasco, porque a besuntice lhe dava azia e que, das poucas vezes que se viu obrigada a andar de autocarro interurbano se recusava a segurar-se e então andava ali a fazer um surf incrível, a cerrar as pernas magras com muita força para não tombar e, inevitavelmente a dar alguns encontrões ao povo.
E esta mulher era casada com um homem que nos mandava lavar as mãos a toda a hora e que, da primeira vez que almoçou com o futuro genro perguntou sem escrúpulos: "Já lavaram as mãos para vir para a mesa?"
Portanto, esta parte, eu já dominava!
Foi só substituir as lentes de contacto pelos óculos e o perfume pelo alcolgel!
Foi só substituir as lentes de contacto pelos óculos e o perfume pelo alcolgel!
Pessoal, recatem-se e cuidem-se: Lavem as mãos como os meus pais ensinaram!
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