terça-feira, 12 de maio de 2020

Covid 19

Três mortos e 785 casos confirmados de covid-19 em Portugal

Poderosíssimo e mortal.
Morre, 
ele próprio, 
com água e sabão!

Moral da história: 
todos temos as nossas fragilidades.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Crónicas da Quarentena - Usar máscara

Medical Face Mask Clipart

Uma das coisas que a maturidade me trouxe foi  a capacidade de (disponibilidade interior para tentar) entender o outro. 

Fui crescendo nessa empatia ao som da mágica pergunta de fundo: o que é que ele/ela está a sentir neste exacto momento.

Isso ajuda-me a entender (tentar entender!) as pessoas, a ler as situações e as reacções.

Por exemplo, ontem de manhã fui fazer uma ecografia (que estava marcada para antes do confinamento).
Tudo de máscaras, três utentes numa sala de espera larguinha, primeiro eu sozinha, depois um senhor e outro.
A senhora do balcão, artilhada de luvas, máscara, viseira e alcóol gel à cabeceira respondia rispidamente, de semblante fechado que adivinhei nos olhos e gestos atrapalhados e bruscos. 
Era o primeiro dia de desconfinamento e trabalho presencial. 
Pensei, 
estás aflita. 
Desesperada. 
A situação é nova e estás a adaptar-te (como todos nós)
Ao invés de sentir-me ofendida, zangada ou triste
fui ao velho refrão mental
o que é que ela está a sentir neste exacto momento
e percebi ou pensei ter percebido.

Lembra-me o meu Venceslau.
(soa suficientemente brasileiro, não soa?)
Trabalho com ele há dois anos.
Recebi-o carrancudo, cabeça baixa, recém chegado do lado de lá do atlântico,
com muitos "eins" a contragosto para nos entender e comunicar.
Dizia-me não sem certa rudeza:
"einh? Ah, num intendo não!"

o que é que ele está a sentir neste exacto momento?

Está confuso, desorientado,
numa escola nova,
numa casa diferente,
num país novo,
rodeado de uma língua esquisita.
Está a precisar de que EU tenha calma, 
paciência e verdadeiro acolhimento.

Assim foi.
Com o tempo, fomos abrindo e conquistando.
Descobri que era oriundo de Manaus,
vivia no Amazonas
numa casa inserida numa reserva natural,
florestada e selvagem
e rodeado de animais...

Hoje em dia o Venceslau é outro menino.
Ganhou segurança e sorri.
Mesmo online.

Felizmente consegui ler-lhe para lá da máscara.
Construímos confiança por isso.

De maneiras que dou por mim a pensar
que no desconfinamento
também vai ser assim
e cada vez mais 
pertinentemente
assim.

Vamos ter de aprender a LER para lá da MÁSCARA.

Vamos ter de aprender a ler para lá da máscara cirúrgica.
A ler os sorrisos  e as lágrimas nos olhos;
e todas as nuances nesse espectro:
medo, preocupação, expectativa, euforia, desespero, 
solidão, cansaço, raiva, inveja, sarcasmo e desprezo
decifrar tudo 
num par de esferas mais ou menos cintilantes e expressivas.

Não vai ser fácil.
Vamos ter de aprender a ler para lá das máscaras físicas e metafóricas.
Mais um desafio.