quarta-feira, 29 de abril de 2020

Crónicas da Quarentena - A caixa roxa

4570book | HD |ULTRA | Box Art Clipart Pack #5274Declaração de intenções:
É tácito que quando um narrador começa um texto por
"eu tenho uma amiga que..."
todas a gente assume que aquilo foi uma experiência pessoal 
que a pessoa não quer assumir!
Lamento desiludir-vos, mas não sou mesmo a protagonista desta história!
Tenho mesmo uma amiga que.

Preâmbulo:
Isto já vai looooongo!!!
As crianças são exploradoras por natureza.
Tantos dias de quarentena volvidos, já não há muito mais a explorar nos 90m2 urbanos de duas assoalhadas. Na cozinha a mãe não deixa. No quarto dela ela não está... Ora, bora lá!


Eu tenho uma amiga que
está em teletrabalho
e, no outro dia, estava em reunião.

A filhota, seis anos,
exploradora, comunicativa
(criança!)
Posso brincar no teu quarto?

Ela sussurra para fora da câmara
para a despachar
"sim, sim, vai lá brincar, vai"

A miúda vai e volta à sala.
Posso brincar com a caixa roxa?

Ela, sem a ouvir,
"tá bem, tá bem"

A miúda vai e volta.
Traz algo com plumas
que a mãe vê sem notar
na visão periférica.

A miúda vai e volta.
algo rosa, agora,
que a mãe vê sem notar
na visão periférica
algemas?

A miúda vai.
A mãe,finalmente,
vê, notando

toma consciência
atrapalha-se
já não muito a tempo.

A miúda volta.
Mãe que brinquedo é este?

"A mãe não quer que tu mexas nas coisas dela."
Rubor.
Reunião em stand by no ecrã.

Mas tu disseste 
que eu podia brincar 
com a caixa roxa!


sábado, 25 de abril de 2020

Crónicas da Quarentena - Jumping rope

Com as crianças do terceiro ano, 
estou a abordar o vocabulário das actividades do recreio. (Playground activities)

Online não é mesmo como presencialmente,
mas ainda assim,
tento manter algumas rotinas de que eles gostavam
(e eu também)

e uma delas 
é fazermos expressão corporal para memorizar as palavras.

De maneiras que já me pus aos saltos com eles
de portátil pendurado 
a ver se conseguia filmar os meus pés😆😆😆
para eles perceberem que eu estava playing hopscotch!!!!!
(a saltar à macaca)

Enfim, 
a gente tenta.

Nas aulas fazemos autênticas coreografias!

Aqui é só um cheirinho,
um gostinho...
até porque as aulas virtuais que o agrupamento marcou,
e muito bem, a meu ver,
só têm 30 minutos!

Apertadinho
lá temos conseguido escutar e repetir umas palavras
cantar uma ou outra canção
ler um textito ou outro.
Devagarinho e sem stress.

Outra coisa de que a maioria gosta muito é de desenhar.

Desta vez, então, lembrei-me de pedir que desenhassem o Rocky,
o gato que é a personagem central do nosso manual,
a fazer uma das tais actividades do recreio que aprenderam a dizer em inglês.

Para a minoria que não aprecia dei uma alternativa:
decalquem o Rocky que está no livro
e depois é só desenhar uma bola nos pés!

Isto foi ontem.
Recebi o primeiro trabalho hoje de manhã!
Este que aqui partilho, sem identificação, claro.


Vieram-me as lágrimas aos olhos!
Não pelo esforço do pobre gato a suar as estopinhas jumping rope!

O que me emocionou no desenho do Rocky (se repararem com atenção) foi o  facto de a menina ter escrito aquelas linhas em baixo, o facto de continuar a abrir a lição como fazíamos juntos!

Eu não faço isso na meia hora de aula online,
mas eles querem manter a "normalidade"!💓💓
Percebem?

Não tarda voltamos a sujar as mãos de giz, bunnies!
A txitxa deixa-vos ir ao board abrir a lesson!

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Crónicas da Quarentena - Bibliotecária (literalmente) de trazer por casa

Royalty-free Photography Clip art - Library Management ...Hoje é o Dia Mundial do Livro.

Como sabido eu sou livrólica, 
leitora compulsiva,
palavrosa, 
boa contadora de histórias 
e apaixonada por literatura infantil.

Por tudo isso 

(e porque acredito no poder das histórias para a aquisição da linguagem, particularmente numa língua estrangeira - mas isso dava uma tese de mestrado, que já escrevi e não é para aqui chamada) 

costumo ler muitos livros na aula ou projectar read alouds do youtube 
(leituras feitas por nativos, que vão folheando o livro e contando a história em frente à câmara).

Hoje celebrei o Dia Mundial do Livro em grande:
(e sinto o coração cheio por isso!)

Criei uma Biblioteca Virtual no Classroom, para os nossos meninos de 3º e 4º anos.
Ou seja, vou por muita gente a ler!
A ler em inglês!
Pretty cool, ah?

Ali não há fichas de leitura, 
nem perguntas de interpretação,
nem avaliação,
nem prazos a cumprir,
nem verificação de tarefas.

É apenas o espaço em que partilhamos leituras
damos sugestões e deixamos a imaginação e a fruição reinar!

Ora isso fez de mim uma bibliotecária virtual
pseudo- bibliotecária
ou bibliotecária de trazer por casa!
De literalmente trazer por casa!

ou a influencer, como agora cai tão bem dizer,
isso,
tornei-me 
a influencer do roupão
a sugerir um livrão!😆

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Crónicas da quarentena - Menos com menos dá mais!

Hoje, esta crónica é sequela desta.

Foram precisos dois,
meus amigos,
dois resultados negativos
na porcaria dos testes
do raio do Covid
para a minha amiga enfermeira
poder finalmente sair do isolamento daquele quarto
e abraçar os filhos.

Menos, com menos - dá mais!


Partilho da alegria dela
imagino a euforia daquelas crianças
e só posso mandar daqui um conselho de amiga:
depois de apertares as crianças
aperta o pai e faz mais uma!


terça-feira, 21 de abril de 2020

Crónicas da Quarentena - #ficaemcasa à Chef!

Bacalhau à Brás#ficaemcasa à Chef!
Ao contrário do que corre nas redes
eu não tenho feito paõdemia,
nem bolos diversos,
nem empratamentos instagramáveis.

Mantenho a minha linha
nutritivo-tradicionalo-saudável-que-os-putos-mastiguem.

É grelhar uns bifes de perú,
é assar uns peixes no forno,
é sopas às litradas,
é saladas diversas e frutas em todas as refeições.

Aqui não há cá bavaroises
nem receitas com  nomes pomposos.
Sobremesa é fruta
leite creme à antiga se eu estiver para aí virada
ou um bolinho caseiro
quando o rei faz anos.

Toda a malta adora salsichas e ovos estrelados,
pizas, lazanhas e hamburgueres
mas a mãe tem que estar extraordinariamente bem disposta.

Aqui há uns dias fiz bacalhau à Brás.
(também é raríssimo porque me fazem confusão as batatas fritas)
Os meus filhos não adoraram, mas aquilo mexeu tanto comigo!
Eu já não comia isso há anos
e redescobri que adoro
e que é um sabor da infância.
A minha mãe não usava cá batata palha,
 fazia tudo às certas
e também não era muito frequente,
mas como eu era lingrinhas e enfastiada
e aquilo até comia com agrado,
ela, de vez em quando,
dava-se ao trabalho.

Desta vez, soube-me a isso.
Ao carinho e trabalho a que ela se dava
para a Xaninha comer.
(A Xaninha sou eu, mais ninguém me chama assim.)

Bacalhau à Brás soube-me a saudade
e não há post nenhum
em rede alguma
que reproduza esse sabor.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Crónicas da Quarentena - Esforço extraordinário

Aqui e ali
em apontamentos jornalísticos
crónicas
e testemunhos

vai-se dando conta ao público comum

dos esforços que os professores têm feito
para acompanhar esta reviravolta
e dar resposta, da melhor forma possível,
às necessidades deste novo desafio,
que é, sem fase intermédia,
sem preparação prévia
(passando o pleonasmo)
sem rede,
sem fase de adaptação e testagem
o gigantesco salto para um ensino à distância.

O ensino é virtual,
o esforço é, de facto, real.

Claro que, como na vida real - barra física, presencial
há profissionais e profissionais;
há os bons, os excelentes, os baldas, os medíocres e os assim assim.

Aqui em casa, por exemplo, tenho:

um filho (7ºano) atolado de aulas síncronas,
a cumprir (penar?) um horário quase em absoluto semelhante ao original,
ou seja, de rabinho sentado em frente ao computador das nove da manhã à uma da tarde;
plus telescola, plus trabalho autónomo, plus trabalhos de casa, plus estudar

e uma filha (4ºano) abandonada ao sabor do vento
que lhe corre de feição
em pinturas e construções sem fim de edifícios em lego,
uma vez que a colega se evaporou na rede,
quer dizer,
tornou-se tão virtual
que não dá nenhuma indicação real.
É que "como alguns alunos não têm computador..."

E depois há os exemplos dos professores extraordinários,
que, como todos sabemos, não se medem ao quilo de fichas e fichinhas,
nem com a régua do domínio das tecnologias,
nem com a bitola das grelhas, gráficos e burocracias todas aparadinhas e formatadas ao milímetro.

Os professores extraordinários
e eu conheço tantos!
trabalham fora de horas
escutam com os ouvidos e o coração
põem-se no lugar dos miúdos
estão sempre disponíveis para eles
sentiram-lhes e sentem-lhes a falta
dedicam-se muito para lá do seu dever profissional.

Felizmente, porque isso me faz brilhar os olhos
porque isso é das coisas que esta maldita pandemia nos trouxe,
(o reconhecermos nos outros a nossa completude)
felizmente estou rodeada de muitos.
Inspiram-me
e fazem-me renovar a fé na humanidade.

Alguém que arregaçou as mangas e desencantou um computador para uma aluna que o não tinha.
E não de uma forma simples e imediata, tipo, tenho cá este a mais em casa, está velho, vou dispensar.
Não. Seria válido, na mesma, o gesto altruísta. 
Mas deu mais voltas.
Contactou uma empresa, explicou o caso, percebeu que um apoio institucional poderia, eventualmente, acontecer, mas pecaria, certamente, por tardio. Por conseguinte, agiu.  E arranjou ajudas e soluções, onde outros só veriam entraves. Resolveu. 
Este, a meu ver, é dos extraordinários e merece a minha homenagem.

Bem hajas!




domingo, 19 de abril de 2020

Crónicas da Quarentena - Negativo

f1f695d29bb733acec04a3030303f765.jpg (400×400)
Conheço alguém
que conhece alguém
que conhece alguém...

cuja luta me atemoriza
cuja força me inspira
cuja resiliência me estimula

gente grande
bonita

por quem rezo
e torço
e torço
e torço
uma vela a deus
outra ao diabo
fingers crossed
a fazer figas
invoco anjos de luz
e fadas
e arco-íris
e unicórnios
e todas as forças do Bem.
Porque elas são guerreiras
e merecem vencer.

Neste caos pandémico
fartos de estar em casa,
queixamo-nos.
Queremos ir tomar café.
Voltar ao ginásio.
Apanhar sol.
Ir ao cabeleireiro.
A insaciedade é humana.
Faz parte da nossa natureza.

No entanto, nesta fase,
já todos tivemos oportunidade de parar e pensar no essencial.
A sobrevivência e o amor - a vida.


Sobreviver
Algures, a agonizar os tratamentos agressivos,
prostrada e enjoada e enfraquecida
uma amiga-luz mantém o sorriso de sempre
envia a todos mensagens de renovação e esperança
e diz que quer vencer o cancro
e ganhar a vida.
Vai vencer.

Amor
Noutro algures, fechada num dos quartos da casa,
uma amiga enfermeira que contraiu Covid,
recolhe as refeições que o marido lhe deixa à porta
e sente as rotinas da família
do lado de lá da impotência
do desespero e da saudade.
O cheiro das refeições, dos banhos da pequena,
o clicar do comando da playstation,
as vozes de quem ama
e não pode abraçar.
Aguarda um telefonema de um colega
sobre o resultado de um teste
que há-de dar
negativo.



sábado, 18 de abril de 2020

Crónicas da Quarentena - Aulas Virtuais



4c61cc1b846aa14208a12650b3948c9e.jpg (400×372)
Ó sincronia de pijamas, bigodes de leite branco e cabelos crescidos!

Ó emojis de coraçõezinhos nos olhos de saudades da txitxa!

Ó glória digital de conseguir calar vinte e cinco alunos de uma só vez!Clique! Desligar microfone a todos! Já está! Fácil! 

Ó estantes com peluches e puzzles; salas com louceiros e cristais; cozinhas com panos da loiça gastos e mães a passar a ferro no enquadramento!

Ó literacia digital, que o papagaio da turma, a quem desativei o micro, não tem a mesma velocidade a teclar como tinha com a língua e mal participa no chat (embora, ironia das ironias, chat queira dizer conversar!!!!)

Ó santo timing do acusa cristo, #somethingsneverchange, teacher preciso ligar o mi-cró-fÓ-ne para dizer uma coisa importante: O Gaudêncio está a comer bolachas na aula, não se pode, pois não?
Thank You Júlio Cláudio por tão oportuna intervenção no nosso já de si tão longo tempo de meia horinha de aula!


Ó divina supervisão parental no desenquadramento da câmara, que os faz portarem-se como os anjinhos responsáveis, empenhados e adequadamente participativos que sempre foram na sala de aula!

Ó maravilha das maravilhas de poder ir recolher o estendal da chuva entre uma aula e outra!

Ó Santinha da Web lenta que me mostras alguns miúdos em slow e com desfasamento entre a fala e os movimentos da boca, como se fosse uma má dobragem brasileira numa novela mexicana dos anos setenta ou como se eles tivessem fumado umas coisinhas antes do streaming (directo) - o que, se calhar até aconteceu, os pais andam desesperados, na volta deram-lhes a milagrosa pastilhinha, sem julgamentos, estou convosco, parents, I'm with you!

Hossana computadores, que já ninguém diz txitxa mei ai gou tu da toilét pliz!

Avé intervenção parental, às vezes esquecem-se que  estou a dar aula aos filhos e respondem na vez deles; é engraçado, faz-me rir, no outro dia até disse: Way to go, father! Isso mesmo! That's correct!
Eu compreendo: as minhas aulas são tão motivantes, que se entusiasmam e querem participar. Diverte-me a ideia de que estejam em casa a curtir com os filhos. Finalmente vão perceber porque é que os miúdos adoram inglês e como têm a melhor teacher do mundo!😅😅😉

sábado, 11 de abril de 2020

Crónicas da Quarentena - Blowing a kiss, beijo soprado

Ando com saudades do meu velho. 

Hoje senti tantas, 
que me deu o impulso de pegar no carro e ir lá vê-lo.
Sem contacto, claro, 
pois que as tristes circunstâncias que vivemos nos impedem de abraçar quem mais amamos.

Fabulei - vou na mesma!
Toco-lhe à campainha de surpresa,
aceno-lhe cá de baixo 
e mando-lhe um beijinho assim sem contacto na face enrugadita, mas sempre impecavelmente barbeada e bem cheirosa. 
Um beijinho soprado do fundo das escadas
mas, ao menos, sem telas de entremeio.

Imaginei-o a fazer um beicinho 
comprido e satisfeito,
um balbuciar de incredulidade,
ó filha, vieste ver o pai!

Depois reflecti que era capaz de não ser boa ideia.
Era capaz de insistir para que subisse
e tomasse qualquer coisa.
Ou então fazia questão de descer a escada
e vir retribuir o beijinho bem na minha bochecha.
E ainda era pior.
Ia ter de lhe fugir.
Ou não resistir e abraçá-lo.
E, dessa forma, por amor,
fazer-lhe mal.
Ignóbil paradoxo!

Apaziguei a mente
e disse a mim própria que não valia a pena
por os meninos não estarem cá.
Era melhor irmos os três 
numa outra tarde cheia de sol,
acenar-lhe da janela do carro.
Isso mesmo.
Os três era melhor.

Só depois de todo este arrazoado 
é que me lembrei das restrições à circulação
que o governo impôs neste período de Páscoa.
Não podia ir,
mesmo querendo,
porque moramos em concelhos diferentes.

Passei ilesa toda uma adolescência e juventude
sem o meu pai ter tido que me ir resgatar a uma esquadra,
não era agora que ia arriscar dar-lhe essa alegria!

De maneira que, de cabeça esclarecida
mas o coração insaciado,
sentei-me aqui a escrever estas linhas.
Não é a mesma coisa, pai,
mas é o beijo possível
soprado do fundo das escadas
para não te magoar.




quarta-feira, 8 de abril de 2020

Quarentena - Movethatbody!

É certo que quem não tem cão, caça com gato;
mas eu juro que
a partir do momento em que vi o meu vizinho
a ir treinar Surf
na piscina
senti-me mais tranquila em relação
à minha saúde mental!

Vale tudo.
Há que mexer a bunda!

Aqui por casa temos um momento de lazer no trampolim, 
assim pela hora do almoço
para apanhar um bocadito de vitamina D.
Ao fim da tarde fazemos uma aula juntos no meu quarto, eu e os catraios.
Cada dia toca a um de nós inventar uma aula para os outros.
E convém ser diferente, divertido e desafiante. 
Não necessariamente puxado, desafiante por ser novo.

De maneiras que já fizemos
handball, kickboxing, hip hop 
entre outras.
Com o Pedro
(e quem o conhece vai achar piada porque ele é para o nervosinho)
fizemos...
YOGA!!!!😆😆😆😆

Comigo fizeram um circuito tal
(com agachamentos, lunges, flexões, abdominais, entre outros)
que, no dia seguinte, nem a treinadora se podia sentar!!!😇

E essa é a ideia:
levantar, pessoal!

Move that body!

terça-feira, 7 de abril de 2020

Crónicas da Quarentena - look pijama

Por esta altura já me arrependi um milhão de vezes de não ter ido aos saldos da Tezenis. É que, convenhamos, quantas lavagens mais aguentará esta flanela descosida a que chamo pijama?

A santinha da pantufa quase não tem descanso para ir à máquina e já levou uns pontos valentes em cada pé, mesmo assim diz que já não aguenta este emprego onde é pisada a toda a hora e arrastada casa fora sem misericórdia nem compaixão!

De manhã, para compor o look pijama só se me impõe o dilema bandelete-barra-elástico do cabelo-barra- mola. Qualquer das opções com nenhum intuito estético, mas apenas para variar a sabotagem do processo de pentear.

E por falar em pentear, não tarda emergem as pretas, as raízes. Serei apenas mais uma entre os milhares de loiras, semi-loiras e madeixadas que a quarentena eliminou. Por reclusão, somos uma espécie em extinção!

Também não faz mal, assim como assim, raízes cavalgantes combinam com pontas espigadas e fios oxigenados. Que fazem pendant com outros descuidados estéticos como mãos gretadas da lixívia e unhas desmanicuradas.

A monocelha vai ser tendência na moda verão, assim como a axila farfalhuda, que deixará de ser um símbolo da resistência ultra-feminista. 

Atenção ao buço, senhoras! Corre nas redes o seguinte apelo aos homens: a barba comprida estilo lumberjack (de lenhador) que estava tão em voga é para cortar na quarentena, pois que muito pelo acumula muito bicho infecioso indesejável. Não se lembraram de vos alertar a vós, mas alerto eu, ladies: idem para os buços!

A concorrência ao real pijama, cá em casa, tem passado pelo ocasional fato de treino e pelas incontornáveis leggings - abençoado elastano que não nos deixa perceber os estragos de tanta hora de bunda no sofá.

Mais de resto, serei só eu que sinto o disparate da transição da farda para a "roupa", do pijaminha para as leggings? 
Eu fico sempre com aquela sensação estúpida do Para quê? 
Aquilo é quente, é confortável, é macio… quer dizer, a menos que haja uma razão de fundo, tipo ir por o lixo ou estender roupinha sendo avistada pelo vizinho do fundo (ah ah ah)
… qual a razão, ah?

Como dizia a Bumba (só ela é que me entende!!!) há que criar um movimento mundial que celebre esse acto heróico de tirar o pijama para ficar em casa...

Tudo isto para chegar ao meu ponto de hoje:
CURTAM P IJAMA!
FIQUEM EM CASA!!!

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Crónicas da Quarentena - Lavar as mãos

Hão-de ter reparado que não tenho escrito por aqui.     
Pois não foi pela quarentena desta quarentona; foi que efectivamente estive sem computador.

E, num piscar de olhinhos o nosso mundinho deu uma cambalhota tão grande que a gente leva tempo a recompor-se. O meu, em particular, fez um flic flac atlético.

Não é que eu não tenha escrito. Não posso viver sem escrever.
Mas não por aqui.

Portanto, o mundo está parado, estamos fechados em casa e há uma pandemia a ensombrar as nossas vidas. Há medo de contágio, há ansiedade e stress pelo confinamento, há saudades dos que amamos e alarmismos histéricos nalguns meios de comunicação social. Depois, claro, estamos todos em rede. Vemos tudo, ouvimos tudo, panicamos mais. Eu acho que a esta altura já todo o comum mortal "covidou" de alguma forma, ao mais leve espirro ou catarrito, mesmo que tenha fumado volumes de Português Suave durante esta vida e a outra.

Claro que esta que vos fala já deu consigo a lavar laranjas com Fairy como quem esfrega tachos e a deixar os pacotes de leite de castigo na garagem por uns dias, até haver paciência para a lixivização. Portanto, também panico.

O meu filho costumava divertir-se a dizer que não conhece mais ninguém que se divirta a limpar, isto porque eu digo coisas como: "Ia só dar uma aspiradela, mas entusiasmei-me" (ele acha inacreditável que alguém se entusiasme com limpezas!)

Portanto,para além de eu já ter em mim algo de obsessivo compulsivo em relação a limpezas, imagine-se o agudizar da higienização. É como fazer as limpezas da Páscoa, sem haver páscoa!

Tenho as mãozinhas e os olhinhos a arder das desinfecções, mas não há interruptor, comando ou maçaneta que me escapem!

O calçado fica lá fora. Os sacos das compras não saem da garagem. Confesso que até a roupinha que trazia no corpo já ficou integralmente na garagem, depois de ter ido ao hipermercado. 

Ah não é agora este vírus que me vem ensinar a higienizar! Sou filha de uma mulher que levava tudo à frente dela, limpava tudo, tinha nojo de tudo, uma mulher que não nos deixava por a mão em corrimões; uma mulher que atravessava a cidade em salto de agulha com duas filhas pequenas pela mão por ter nojo de andar em transportes públicos; uma mulher que dificilmente comia em qualquer tasco, porque a besuntice lhe dava azia e que, das poucas vezes que se viu obrigada a andar de autocarro interurbano se recusava a segurar-se e então andava ali a fazer um surf incrível, a cerrar as pernas magras com muita força para não tombar e, inevitavelmente a dar alguns encontrões ao povo.

E esta mulher era casada com um homem que nos mandava lavar as mãos a toda a hora e que, da primeira vez que almoçou com o futuro genro perguntou sem escrúpulos: "Já lavaram as mãos para vir para a mesa?"


Portanto, esta parte, eu já dominava!
Foi só substituir as lentes de contacto pelos óculos e o perfume pelo alcolgel!

Pessoal, recatem-se e cuidem-se: Lavem as mãos como os meus pais ensinaram!