Bem Vindos ao "Marta à vista", o blog onde podem ler sobre o que a Marta avista e avistar a Marta. Talvez mais aquilo do que isto, se é que não são a mesma coisa!
quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
As melhores rabanadas de sempre!
domingo, 29 de novembro de 2020
Procurar a agulha no palheiro em chamas
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
Comprimidinho miraculoso!!!!
uns mais ansiosos que outros,
quando o Francisquinho
(chamemos-lhe assim)
"TixÉr! Tu sabes que eu comecei hoje a tomar uns comprimidos...?"
Parei e olhei para ele.
enfim,
queres ver que foste avaliado?
queres ver que foste medicado?
Penso: ainda bem...
Penso: seria preciso?
E ele:
"Sabes, eu comecei hoje a tomar um comprimido para a inteligência... vai ser bom para mim; eu vou conseguir ficar mais atento na escola...é assim um comprimido para eu ficar mais inteligente, sabes?"
Digo-lhe que sim, que bom, agora vai lá sentar que quero distribuir o teste
e ele ainda, a caminho do seu lugar:
"o problema é que só dá até às quatro da tarde... mas também depois já não faz falta que já não estou na escola..."
Quase me dá vontade de rir, mas há algo de perverso neste discurso...
O teste passa. O miúdo resolve-o.
Penso - isto é fácil, é iniciação, é o primeiro teste de inglês que estás a fazer na vida, és capaz de sacar um Bom ou Muito Bom...
porque vais achar que a nota tem a ver com o comprimido!!!!
Que sorte a do farmacêutico, vai fazer negócio à custa da txitxa!
quinta-feira, 19 de novembro de 2020
Nadas no meio de pandemias
Dias bons são feitos de nadas, no meio de pandemias.
há vacina, não há vacina,
confina-se,
desinfeta-se,
mascara-se e distancia-se
mas
ainda assim
o Pedro teve mais de noventa por cento a matemática
a Maria pratica o twinkle little star na viola d'arco
Cheira a ameijoas com coentros na cozinha
e tudo está certo.
por trás de máscaras com bonequinhos.
domingo, 1 de novembro de 2020
O Pior Dia da Minha Vida
O pior dia da minha vida não foi o dia em que a mãe morreu.
Foi o dia em que tivemos de lhe dizer que tinha um cancro. Eu e a Ana.
Nós as duas, tão desesperadamente sós as duas naquela antessala da enfermaria, sentadas à espera para ir dar uma nova que odiávamos e nos ardia na pele sem expressão. Tão grandinhas que ali estávamos a cumprir a missão.
A Ana a explicar-me ter pedido à médica para estarmos presentes aquando da verbalização da tragédia, para estarmos presentes para enunciarmos a maldita, a pretexto de que a mãe ouvia mal, que se contornasse o protocolo, o dever de informação médico/paciente. Eu a ouvir a Ana e a concordar de aperto na garganta como o dela, de olhos nos dígitos vermelhos do elevador, a porta de metal cinzenta que quase não pára neste piso, a esta hora, os dígitos vermelhos, quadrados, sempre a indicar movimento, as paredes muito imaculadas do branco do hospital novo, a faixa de madeira a meio da parede; a espera longa e dolorosa que não desejo apressar.
Dou razão à minha mana, a mais nova, a pequena, grande, tão grande em todo este processo! - fizeste bem, vamos ajudar, vamos lá estar, vamos "ao menos" lá estar. Neste "ao menos" toda a nossa impotência, toda a rendição, toda a inutilidade prática do nosso desespero e amor.
A médica, não a vejo na minha memória, ela é só uma voz, só palavras secas, factuais e clínicas, que só ouço a espaços e que sei que a mãe não escuta, mas lê nos lábios e nas expressões faciais descontentes das filhas e da doutora de bata branca, "primeiramente suspeita de pneumonia aguda"
Os olhos da mãe,
aflitos,
a procurar os nossos...
"depois indícios tumorais bilaterais"
Os olhos da mãe,
aflitos,
procuram ouvir...
"carcinoma pulmonar"
Os olhos da mãe gritam respostas aos meus e aos da Ana. Os lábios balbuciam "é cancro, não é?" mas ainda sem som.
Nós explicamos, em voz alta (e isto dói muito, como se a humilhasse; como se ao dizê-lo em voz alta lhe dessemos mais força, como se o validássemos, como se o celebrássemos, como se ao pronunciá-lo tão convictamente lhe déssemos existência, como se, enfim, nos tornássemos cúmplices no crime, culpadas, colaborantes e para sempre auto arguidas)
Mentimos-lhe. Minto-lhe eu (porque nesta altura já não acredito numa recuperação) e digo-lhe que vai fazer tratamentos e ultrapassar tudo aquilo, que vai superar e lutar. Depois digo a verdade - que estamos do lado dela e que a amamos muito.
Quem já frequentou um IPO ou acompanhou um doente terminal saberá que, depois disto, muitos outros momentos dolorosos e feios se seguiram até ao triste momento em que a perdemos. No entanto, este foi para mim o pior dia da minha vida. O dia em que tive de anunciar uma doença mortal à pessoa que me deu vida.
sexta-feira, 23 de outubro de 2020
SAD
Há uma canção cinco estrelas no manual de terceiro ano
How are you today?"
E os miúdos adoram e rapidamente cantam
I'm happy, I'm WONDERFUL today!!!"
segunda-feira, 5 de outubro de 2020
Dia do Professor
Eu sou professora de coração.
Em vinte anos de serviço, muitas vidas me passaram pelas mãos.
A muitos ensinei umas coisas, a outros nada, marquei alguns.
A Soraia é uma das que tatuei. Conheci-a em Mogadouro, no seu décimo ano.
Um furacão. Rebelde. Revoltada. Do contra.
Não desisti dela.
Não desisto nunca.
E ela voltou a encontrar-me nas redes. Com palavras de tanta gratidão e apreço, que eu nem recordava merecer. Guardou um recado que lhe deixei depois de uma aula. E guardou na alma um texto que escrevi há anos Sobre ela
Diz que mudou a vida dela e que deve a mim tudo o que hoje é.
Chat do Facebook (2015)
Gosto muito de si, do fundo do coração, obrigada
quinta-feira, 1 de outubro de 2020
nus óios é ki tá a verdádji
Readers... preparem-se!
Esta é curta, mas de fazer chorar as pedras da calçada!
A propósito de máscaras, saiu-me, numa turminha:
"Oooooo! que lindo sorriso, querida! Consegui ver o sorriso nos teus olhos!!"""
e o meu Miguel, lá do fundo do recato do sua suave presença no fundo da sala:
"sabíz txitxEr?"
(ele tem sotaque do Braziu)
"os olhos são ondje a gentxi vê mélhó o qui ais pessoais sentim!!!"""
Eu derreti-me.💓💓💓💓💓💓💓💓
"É verdádji! Nos olhos é qui você lê A pessoa, intendeu?"
Entendeu?
A vida - nas palavras de um brazuquinha de nove anos!
quarta-feira, 30 de setembro de 2020
Celebrar
Assim.
Sem mais nem menos.
A meio da aula. Interrompendo um exercício.
O meu menino especial (dificuldades cognitivas e de atenção), que até nem estava a usufruir muito da aula por se ter esquecido do material e não poder partilhar o livro devido ao Covid...
"PARABÉÉÉÉÉNS TXITXA!!!"
Parabéns? Porquê lindo? Eu não faço anos!
"PARABÉNS POR ESTARES AQUI A DAR A NOSSA AULA. PODIAS NÃO ESTAR!"
Como? O que queres dizer?
"ISSO TXITXA! PARABÉNS POR SERES A NOSSA TXITXA!"
Oh, meu querido!!! Tens razão! Tenho muita sorte em ser a vossa txitxa!!!
E não é que começaram todos a bater palmas?
Se isto não vale ouro e eu sou muito rica... não sei o que vale!
domingo, 27 de setembro de 2020
Alegria vírica
A escola arrancou
Os pais suspiraram de alívio
A atividade económica agradeceu
E o Covid continuou
Eu passo aos miúdos toda a serenidade que não trago cá dentro;
Finjo com os dentes todos que não veem atrás da máscara e literalmente mascaro a apreensão e hipervigilância que borbulha cá dentro: "Não metas isso à boca"; "Desinfetaste as mãos, lindo?"; "Já lavaste as mãos para comer'"
A loucura de ter vinte e tais filhos menores à vez e tentar protegê-los de uma pandemia sem lhes impor outra - o stress, a ansiedade, o pânico.
Confesso que em muitos momentos isto me tem assoberbado e que me sinto exausta se ainda agora começamos...
São tantas as contingências - salas de janela aberta, máscaras a esconder sorrisos, intervalos condicionados, cotoveladas a crianças que nos querem abraçar... que no final da primeira semana dizia "não queria estar a viver a escola assim"
No entanto, as crianças são mágicas. Conquistam-nos, recentram-nos e desmontam-nos. Vivem da forma mais pura e natural.
E eu adoro ensinar.
Por isso, consegui voltar a ser feliz na sala de aula e, apesar de ter um caso com o álcool gel, quase sinto a normalidade das nossas risadas e partilhas.
OH TXITXA
(diz me uma assim que entro na sala de aula, no último tempo da tarde)
Eu tou muito constipada!!! Já viste o papel que eu gastei só depois do intervalo?
E exibe-me orgulhosamente o saco cheio de vírus, trofeu pessoal a despeito de desinfeções, higienizações ou contágios.
Todos acharam aquilo deliciosamente hilariante menos eu que lhe pedi para ir deitar no lixo e desinfetar bem as mãos no fim.
Ela foi. Preparando-se para dar com o saco na cabeça da colega que ria à gargalhada, não fora eu intervir!!!
quinta-feira, 16 de julho de 2020
Back to real life!
terça-feira, 12 de maio de 2020
Covid 19
quarta-feira, 6 de maio de 2020
Crónicas da Quarentena - Usar máscara
quarta-feira, 29 de abril de 2020
Crónicas da Quarentena - A caixa roxa
sábado, 25 de abril de 2020
Crónicas da Quarentena - Jumping rope
quinta-feira, 23 de abril de 2020
Crónicas da Quarentena - Bibliotecária (literalmente) de trazer por casa
quarta-feira, 22 de abril de 2020
Crónicas da quarentena - Menos com menos dá mais!
Foram precisos dois,
meus amigos,
dois resultados negativos
na porcaria dos testes
do raio do Covid
para a minha amiga enfermeira
poder finalmente sair do isolamento daquele quarto
e abraçar os filhos.
Menos, com menos - dá mais!
Partilho da alegria dela
imagino a euforia daquelas crianças
e só posso mandar daqui um conselho de amiga:
depois de apertares as crianças
aperta o pai e faz mais uma!
terça-feira, 21 de abril de 2020
Crónicas da Quarentena - #ficaemcasa à Chef!
Ao contrário do que corre nas redes
eu não tenho feito paõdemia,
nem bolos diversos,
nem empratamentos instagramáveis.
Mantenho a minha linha
nutritivo-tradicionalo-saudável-que-os-putos-mastiguem.
É grelhar uns bifes de perú,
é assar uns peixes no forno,
é sopas às litradas,
é saladas diversas e frutas em todas as refeições.
Aqui não há cá bavaroises
nem receitas com nomes pomposos.
Sobremesa é fruta
leite creme à antiga se eu estiver para aí virada
ou um bolinho caseiro
quando o rei faz anos.
Toda a malta adora salsichas e ovos estrelados,
pizas, lazanhas e hamburgueres
mas a mãe tem que estar extraordinariamente bem disposta.
Aqui há uns dias fiz bacalhau à Brás.
(também é raríssimo porque me fazem confusão as batatas fritas)
Os meus filhos não adoraram, mas aquilo mexeu tanto comigo!
Eu já não comia isso há anos
e redescobri que adoro
e que é um sabor da infância.
A minha mãe não usava cá batata palha,
fazia tudo às certas
e também não era muito frequente,
mas como eu era lingrinhas e enfastiada
e aquilo até comia com agrado,
ela, de vez em quando,
dava-se ao trabalho.
Desta vez, soube-me a isso.
Ao carinho e trabalho a que ela se dava
para a Xaninha comer.
(A Xaninha sou eu, mais ninguém me chama assim.)
Bacalhau à Brás soube-me a saudade
e não há post nenhum
em rede alguma
que reproduza esse sabor.
segunda-feira, 20 de abril de 2020
Crónicas da Quarentena - Esforço extraordinário
em apontamentos jornalísticos
crónicas
e testemunhos
vai-se dando conta ao público comum
dos esforços que os professores têm feito
para acompanhar esta reviravolta
e dar resposta, da melhor forma possível,
às necessidades deste novo desafio,
que é, sem fase intermédia,
sem preparação prévia
(passando o pleonasmo)
sem rede,
sem fase de adaptação e testagem
o gigantesco salto para um ensino à distância.
O ensino é virtual,
o esforço é, de facto, real.
Claro que, como na vida real - barra física, presencial
há profissionais e profissionais;
há os bons, os excelentes, os baldas, os medíocres e os assim assim.
Aqui em casa, por exemplo, tenho:
um filho (7ºano) atolado de aulas síncronas,
a cumprir (penar?) um horário quase em absoluto semelhante ao original,
ou seja, de rabinho sentado em frente ao computador das nove da manhã à uma da tarde;
plus telescola, plus trabalho autónomo, plus trabalhos de casa, plus estudar
e uma filha (4ºano) abandonada ao sabor do vento
que lhe corre de feição
em pinturas e construções sem fim de edifícios em lego,
uma vez que a colega se evaporou na rede,
quer dizer,
tornou-se tão virtual
que não dá nenhuma indicação real.
É que "como alguns alunos não têm computador..."
E depois há os exemplos dos professores extraordinários,
que, como todos sabemos, não se medem ao quilo de fichas e fichinhas,
nem com a régua do domínio das tecnologias,
nem com a bitola das grelhas, gráficos e burocracias todas aparadinhas e formatadas ao milímetro.
Os professores extraordinários
e eu conheço tantos!
trabalham fora de horas
escutam com os ouvidos e o coração
põem-se no lugar dos miúdos
estão sempre disponíveis para eles
sentiram-lhes e sentem-lhes a falta
dedicam-se muito para lá do seu dever profissional.
domingo, 19 de abril de 2020
Crónicas da Quarentena - Negativo
que conhece alguém
que conhece alguém...
negativo.