No ano em que celebra o seu quadragésimo aniversário, a mítica companhia de teatro da Cornucópia encerra as suas portas. Triste, não acham?
Em entrevista à Antena 1 ouvi Luís Miguel Sintra lamentar um país onde sucessivos governos entendem a Arte como algo subsidiário, sem perceberem que "é tão importante como a educação ou a saúde".
O director queixava-se ainda da insustentabilidade devido à falta de financiamento de um ministério que encara o teatro com fins meramente comerciais, que tem de dar lucro, sem entender que ao fazê-lo, a arte perderia a sua essência, o seu "papel de vanguarda".
Palavras do fundador da companhia, que opera desde 1973, inicialmente com um reportório obviamente condicionado pela censura fascista e, posteriormente, desbravando caminho no sentido de "construir um teatro de reflexão com uma função activa na realidade cultural portuguesa".
O último espectáculo será esta tarde, um recital de Apollinaire, o percursor dos movimentos de vanguarda como o cubismo, o criador da palavra surrealismo; um transgressor do cânone literário, uma voz divergente e original. Um símbolo chave para o que representa a Cornucópia.
Portanto, hoje, com uma última actuação de entrada livre, às 16h no Bairro Alto, não apenas o teatro, mas, em meu entender, também a liberdade e a democracia silenciarão mais uma das suas vozes.
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