quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Hamlet Talvez, a partir de William Shakespeare


 

Ontem à noite fui ao teatro sozinha, como par habitude. 
Ainda desafiei uma amiga, mas acabou por não se concretizar e não me demovi de ir ver a peça. Há anos que assim faço. Era assim com vinte anos, no Theatro Circo. Assim é com quarenta, no Teatro Municipal de Bragança. O mesmo acontece com saraus literários. Era eu com dezassete anos, na Feira do Livro em Braga. Sou em com os supramencionados quarenta nas recepções de escritores aqui no interior. Não é incomum estas coisas terem públicos escassos, penso que para a maioria estas eventos são mesmo chatos. Eu gosto. E vou, quando posso. E gosto de ir sozinha. Concentrada apenas naquilo ao que vou. Sempre me distraio um pouco no foyer a ver as plumas das madames, daquelas que vão mais para ser vistas do que para ver (alfinetada queirosiana não premeditada!). Mas depois, na sala, sou só eu e o espectáculo. Absorvo tudo. Entro noutra dimensão.

Serve este post para louvar a peça a que assisti, mas também o cartaz do Teatro Municipal de Bragança. (TMB)
Ao contrário do que o provincianismo das gentes dos grandes centros cosmopolitas possa pensar, a província tem acesso e, por vezes, chega a ser foco de emanações culturais de qualidade. Ocorre-me, por exemplo, o Fundão, cujo município apostou fortemente na cultura como um dos principais pilares de evolução do concelho. 
Para começar,o edifício do TMB, que aliás vi crescer, é lindíssimo. Depois, a programação é variada e de qualidade, a preços muito razoáveis. Um privilégio.
A peça, ontem, era a doer. Ou fez-me doer qualquer coisa cá dentro, até às lágrimas. Belíssimo texto. Extraordinária interpretação. Um momento magnífico. 
Era só isso. Parabéns à Companhia JGM por dar vida de forma tão intensa e este texto sublime que conheço já dos tempos da faculdade. Parabéns ao TMB pela escolha.



 
A Companhia JGM (João Garcia Miguel) é uma estrutura financiada pelo Governo de Portugal – Secretaria de Estado da Cultura / Direcção-Geral das Artes



 “Abordámos Hamlet como um texto religioso testemunho de lugares estrangeiros. Ali procurámos ajuda para os enigmas do viver e auxílio para modificar o que vemos acontecer em nós. Dentro e fora de cada um. Ser atingido por estes testemunhos é possuir uma máquina de espreitar para o nosso interior. É essa talvez a razão porque escolhemos fazer Hamlet, porque acreditamos nas artes como um sistema de resistência contra a destruição da alma que é o que nos preserva enquanto natureza, animal e humano. Sabemos que a palavra alma, essa força indistinta e intemporal, está fora de moda e o seu significado soa confuso incompreensível para muitos e para nós de certo modo também.”

João Garcia Miguel


DIREÇÃO, TRADUÇÃO, D
ESENHO DE LUZ: JOÃO GARCIA MIGUEL.
INTERPRETAÇÃO: SARA RIBEIRO, FREDERICO BARATA, RITA BARBITA, PEDRO J. RIBEIRO, ANTÓNIO PEDRO LIMA
ASSISTENTE DE DIREÇÃO E APOIO À TRADUÇÃO: SÉRGIO CORAGEM.
FIGURINOS: ANA LUENA.
DESENHOS DE LUZ: LUÍS BOMBICO.
DIREÇÃO DE SOM: MANUEL CHAMBEL.

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