quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A minha carta ao Pai Natal ***

Meu querido Pai Natal:
Não sei se ainda venho a tempo, mas como sabes sou mãe e, portanto, sou sempre a última das minhas prioridades. Eu não sei muito bem se acredito em ti ou não, mas, pelo sim, pelo não, tenho uns desejos para expressar. Se tu fosses menos pançudo e barbudo e mais parecido com aqueles senhores musculados dos calendários solidários, eu não teria perdido a oportunidade de me sentar ao teu colo a pedir um desejo, mas como és velhote e moras tão longe, basta-te assim. Presta bem atenção porque a maioria dos pedidos são semelhantes aos do ano anterior e não foram atendidos. Desconfio que estás a ficar surdo ou senil, naturalmente, será da idade. Ou então eu portei-me mesmo mal e não mereci nada daquilo. Vou tentar a minha sorte outra vez. Tenho sido uma boa mãe: alimentei-os, lavei-os, vesti-os, mimei-os e berrei-lhes o ano todo.
 
1) Recauchutagem
Ora bem, assim para começar podia ser braços de ferro para os transportar quando adormecem no carro; uma actualização do cérebro com extra créditos de paciência e, já agora, a devolução das maminhas e da cinturinha pré-parto, faxavor!

2) Gadjets
Era assim um automóvel com aspiração central que detectasse as migalhas automaticamente; era uma televisão que tivesse algum canal para além do Panda, do Disneychannel, do Nickleodeon ou do CartoonNetwork e uns phones ultrapotentes para eu conseguir falar ao telefone. Ainda queria um placard em neóns berrantes onde eu pudesse programar as instruções mais frequentes, de preferência com suporte audio, do estilo: "Vão lavar os dentes!"; "Venham para a mesa!" ou "Lavem as mãos!" , entre outras. Isto podia vir acompanhado de um sistema de semáforos para a casa de banho e também um daqueles ecrãs numéricos, como no talho, para organizar os pedidos de auxílio aos pais! 

3) Bagatelas
Estava mesmo a precisar de um filho que não comesse com as mãos; uma filha que respondesse sempre "sim, mamã" (pensando bem até pode mesmo ser uma boneca, só para reforçar a minha auto-estima). Também dava jeito dois irmãos que não se pegassem e com sistema de autolimpeza incorporado, como aqueles fornos automáticos que se limpam sozinhos.

4) Luxos
Se, eventualmente, estes produtos já estiverem esgotados contento-me com cinco minutos de absoluto silêncio (nada de muito grave, mas tipo uma mudez temporária ou uma afonia ligeira) ou tempo suficiente para conseguir lavar a cara e pentear-me na mesma manhã ou para não ter de fazer uma sopa em três actos!!

5) Milagres
Como estamos na época deles, também posso pedir os meus: se não fosse pedir muito era uma lei que proibisse os trabalhos de casa; era convenceres os meus filhos a colaborar nas tarefas domésticas voluntariamente e, se não fosse muita maçada, dares também a volta ao miolo do pai para não lhes dar guloseimas às escondidas!



*** Este texto foi publicado em Dezembro de 2015 no meu  blog maospequeninascoraçõesgrandes. O conteúdo adequa-se mais ao Marta à vista

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