terça-feira, 5 de julho de 2016

Vidros Foscos


A maior parte das pessoas tem
a
doce
ilusão
que os vidros dos automóveis são impermeáveis aos olhares externos.
Só pode!
Só assim se explica que elas façam beicinho para retocar o batom no espelho da pala, enquanto o semáforo não avança.
E que eles tirem macacos do nariz compulsivamente, na fila para entrar na rotunda.
(Um vice-versa ficava bem aqui, mas embora não seja impossível, parece-me ainda bastante infrequente os homens retocarem a maquilhagem no trânsito... mas, se calhar, é porque vivo em Bragança; talvez em Las Vegas ou Tóquio seja diferente!)

Também supõem que, dentro do carro, são inaudíveis.
 "Queres-te calar, caralho? Mas tu queres mesmo fechar essa boca sua puta?" Não é propriamente stand up comedy no Coliseu...


Do que se depreende que, dentro do veículo, pensamos que não nos conseguem ouvir. De outra forma, por que razão esticam o pescoço janela fora para proferir impropérios, quando pretendem insultar a velhinha em contra-mão? Porque consideram que o habitáculo os insonoriza...

Ou não. Será exactamente o contrário?

De volante na mão, como debaixo do chuveiro, como no Karaoke, todos cantam.
Na estrada, no entanto, soltam-se mais livremente os pavarottis e as rhianas mais insólitos, sob o escudo dos vidros cerrados ou mesmo abertos. Stars do asfalto.

E acho bem. Só alerto, por experiência própria, que conduzir não se coaduna com um belo dum faduncho... é que um gajo cerra os olhinhos de emoção e o fado pode-se tornar fatal como o destino!

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