segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

"Certa idade"

Chego um pouquinho atrasada às Correntes, 
porque a mesa começa às dez e a minha aula também terminou a essa hora. 
De maneira que subo a escada, 
entro pela lateral para não incomodar muito 
e arranjo lugar logo ali no topo do auditório, junto à coxia. 
Sento-me, desembaraço-me de casacos, chaves e tralhices, saco caderninho e material escrevente
(a gente ainda leva um certo tempo a acomodar-se)
habituo os olhos cheios de luminosidade exterior à semi-luz da sala e, finalmente, observo. 
Tenho de semi-cerrar os olhos míopes para ler os nomes das entidades lá ao fundo, 
pelo que abro o saco, 
novamente, 
a fim de consultar o programa e verificar -de mais perto- os ditos nomes.
Estico os olhos sobre as cabeças da plateia. 
Para esta hora matinal, até está composta. 
Cá de cima, o anfiteatro é uma cascata de carecas e cabelos grisalhos
Não há jovens que se interessem pela leitura e pela escrita?

Dias depois, Mário Cláudio refere jocosamente que esta expressão "de certa idade" é algo curiosa, particularmente quando, de seguida, se lhe acrescenta "mas com boa cabeça". 
Seja. 
As Correntes estão cada vez mais concorridas, o certame celebra vinte anos e vem crescendo em qualidade e afluência.  
A edição deste ano foi realmente extraordinária. 
Pena é que as "boas cabeças" sejam, 
não posso deixar de constatar, 
maioritariamente grisalhas ou carecas!

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