Dores de barriga.
Muitas dores de barriga.
Todos os dias.
Todos os dias a Sarinha tem de abandonar a aula
e beber chazinho.
Muitas vezes chora, agarrada ao ventre;
Muitas vezes tem de ir embora,
que não suporta as dores
e tem de se ligar à mãe para a levar ao médico ou para casa.
Viroses,
chamam-lhe,
viroses.
Consecutivas viroses depois,
à décima nona aula que tens com ela,
apercebes-te
que dos duzentos alunos a quem que ensinas
a Sarinha é a que sempre tem dores de barriga
finalmente vês
percebes
enquanto escreves o summary
e ela se queixa,
choramingosa
melada,
carente
finalmente abandonas os outros vinte e cinco
a fazer legendas de places in school
e aninhas-te na carteira dela
e dispões-te a ouvir
a compreender que virose é esta que a não larga.
Uma vez que ela já foi e voltou da casa de banho,
perguntas se está melhor.
Não está.
Está triste e chora baixinho,
ou melhor,
CHORA
inaudivelmene
- só lágrimas cheias e soluços.
Então:
vês
entendes
perguntas
sabendo o que vais ouvir...
que tem saudades
que o pai não está em casa
que foi para Lisboa
perguntas
(mais uma vez) adivinhando a resposta que vais ouvir
O que faz?
É professor.
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