domingo, 5 de novembro de 2017

Ó Dóóóóóna!


Resultado de imagem para plumber whistling clipart No outro dia chamei cá o senhor para compor o autoclismo que pingava.

(Eu tenho para comigo que os canalizadores são homens muito felizes. Só podem ser. Conhecem algum que não assobie enquanto trabalha? Quantos de nós se sentem tão à vontade no exercício da sua função profissional que possamos dizer ter desejo de cantarolar ou assobiar?

Felizes e bem sucedidos. Por que não?
Bem aventurados os homens ou as mulheres que sabem cuidar das canalizações.
Ajudam a resolver a vida das pessoas, não têm mãos a medir, pelo que devem facturar bem e a gosto, gerem os seus horários a seu bel prazer. Invejo-os. 
Para além do mais, admiro-os. São daquelas pessoas. As máquinas falam com elas, olham para um dispositivo e percebem logo a engrenagem, a mecânica da coisa, detectam o erro, sabem compor. Eu considero isso extraordinário, especialmente porque a mim, a única coisa que as máquinas me dizem é que já fiz m***a outra vez e tenho de desembolsar de novo. É - literalmente- o preço a pagar por ser aleijadinha das mãos e surdinha dos ouvidos para escutar os desalinhos de motores, canos, torneiras, porcas e parafusos.

Mas, enfim. Adiante.)

O guru da entorneira lá veio escutar a gota que me assola as noites a pingar na sanita. 
(Cá em casa chamamos entorneira às torneiras. Foi a Maria que apelidou em pequena e, a meu ver, muito bem pois é o que faz - ENTORNA)

Deixei-o lá a trabalhar e desci para as minhas lides (roupas, molas, estendais e afins). 
O homem bulia lá na casa de banho há um bom quarto de hora sozinho, quando me pus a imaginar.
(eh pá, não! Não se prestava a esse  tipo de fantasias!)
A gente não percebe nada da poda. Eles levam-nos como o diabo esfrega um olho, se assim o entenderem. Na volta aquilo era super simples, já está mais que pronto e está o homem a engonhar, só para cobrar honorários que se vejam. 

(Há que desculpar-se o meu mau juízo, mas aqui entre nós que ninguém nos ouve, já alguma vez contrataram uma reparação destas e o conserto levou apenas cinco minutos? NÃO!A coisa prolonga-se...tem que dar tempo para assobiar pelo menos um cd completo do Tony Carreira, alto e bem orquestrado como se a nossa casa de banho fosse o Olimpiá de Paris!!!!)

Então, dizia eu, pus-me a fazer o filme: a esta hora já o tóclismo está mais que pronto e está o homem, sentado na tijoleira branquinha, a dar uns toques com a chave de fendas na parede, a pousá-la no chão para que eu oiça que estão a decorrer os trabalhos...

Ocorre-me que lá esteja bem sentadinho, quiçá a fumar um cigarro ou a mesmo a comer uma sandocha com bifana e a emborcar uma bejeca, enquanto, volta e meia, bate com as ferramentas no chão ou interrompe o assobio para suspirar muito alto ou fazer um gemido de quem está a aparafusar com força, só para fazer parecer que aquilo está a ser custoso e árduo... sabendo a gente que só vai ser penoso mas é para mim, que vou pagar!

Rio-me de imaginar que o homem pudesse mesmo estar a fazer a fita das ferramentas no soalho e apetece-me ir lá acima, surpreendê-lo a meio do panado de porco. Não tenho tempo. Ele clama:

"Ó dooooona!"
"Está prontinho!"

Olarila!
Já não me safo de:
ser chamada por dona, como as cotas;
ter que limpar as patinhadelas que deixou na casa de banho onde efectivamente esteve a trabalhar
e, claro,
de liquidar a factura das válvulas, bóias, ligações e serviço.
É limpinho!

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