"Os miúdos que mais precisam de amor vão pedi-lo da pior maneira possível."
O terrorista da turma. O miúdo mais irritante, disruptor, desafiante e perturbador do grupo. Aquele que nos leva aos arames e com quem nada parece resultar.
Tenta-se de tudo - reforço positivo, elogios, motivação extra em forma de autocolantes ou desempenho de papéis de destaque na turma, como verificar os trabalhos de casa dos colegas ou distribuir fotocópias para que dê um giro, porque não é capaz de estar quieto. Tenta-se de tudo - time-outs, quadros de comportamento, castigos, recados para os pais.
Está-se a tapar a ferida com pensos rápidos que não a deixam sarar.
Sim, porque há sempre alguma coisa por trás daquele comportamento indesejável, que o despoleta ou motiva ou fortalece. Esses gatilhos escondidos normalmente são necessidades de algum tipo, às quais não estamos a responder. Necessidades profundas, emocionais. Atenção. Afecto. Auto-estima. Ou simplesmente necessidades fisiológicas: cansaço, fome, sede, necessidade de brincar.
O comportamento não é desejável, mas as necessidades que lhe estão na origem são perfeitamente compreensíveis. Podemos dar resposta a todas? Provavelmente, não. No entanto, temos obrigação de enquadrar as atitudes e agir com empatia e tolerância. Respeitar a pessoa-criança, mesmo quando a situação é extrema e isso nos parece contra-natura. Mantermos a calma é particularmente importante nessas mesmas situações-problema.
"Don't take it personally", dizia-me o meu orientador de estágio, quando havia atitudes que me faziam chegar a mostarda ao nariz. Essa frase ficou-me. Salvo raras e extremas excepções, as atitudes desajustadas dos miúdos não são para nos atingir pessoalmente. Na maior parte dos casos, são lutas internas que nos passam a anos luz. Por isso, tento sempre estar atenta e saber mais sobre aquele pestinha que nos inferniza a vida. Haverá algo ou alguém que inferniza a dele?
As crianças que agem de modo revoltado ou agressivo provavelmente sentem-se, elas próprias, agredidas, magoadas, insatisfeitas, mal-amadas, indesejadas, sem valor, sem poder para alterar o estado das coisas que lhes é hostil.
O que muitos colegas não perceberam ainda, mas que felizmente muitos outros intuem e muito bem, é que a resposta que estas crianças precisam não passa por mais autoridade e controlo ou castigos maiores. Estas crianças precisam de compreensão, empatia e apoio para o seu crescimento. Amor.
E, já agora, isto é válido também ao lidar com adultos... digo eu.
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