É tarde, deito os miúdos, enfio-me num roupão quentinho.São longos e ruidosos, os dias. Anseio por um pouco de paz.
Finalmente silêncio.
Vou buscar chocolate negro e um copo de vinho tinto. Que bom que é ouvir o silêncio com o chocolate a derreter-me na boca. O álcool cumpre a sua parte: descomprimir-me os músculos, sentir-me mais leve, apreciar o silêncio também.
Sou o estereótipo completo das mães quarentonas nas redes sociais norte-americanas, com motes do género: Deus dá-me café para mudar as coisas que posso mudar, e vinho para aceitar as que não posso.
Há certamente uma "duzinha" de coisas que não me importava de engolir com o tinto, tais como as birras dos miúdos; a conta do mecânico; o romance que tenho guardado na gaveta; os gritos e palmadas que dou às crias, quando perco as estribeiras; a brutal realidade da minha mãe me ter sido roubada tão cedo e de forma tão violenta; a absoluta insanidade de nos termos de resignar com o facto de que toca a todos e que a maior parte de nós morrerá assim execravelmente; o facto da minha vida se ter virado ao contrário após a sua partida: natais amargos, verões frios e netos orfanados. Enfim, um último golinho para empurrar este aperto no peito, esta acidez no estômago, esta ansiedade sempre a arder cá dentro, como um terrível fantasma que me estremece ainda quando passa uma ambulância, a sirene que cá dentro é medo de perder.
14,5 graus alcoólicos e um silêncio delicioso, banhado de chocolate preto.
Não peço a Deus o café para agir. Tenho felizmente o vigor para levar tudo à minha frente, com coragem, resiliência e força. Peço-lhe clarividência e a manutenção desta força de lutar. Agradeço mais do que peço.
Agradeço este deleite feito de cacau, silêncio e brandura vínica.
Há certamente uma "duzinha" de coisas que não me importava de engolir com o tinto, tais como as birras dos miúdos; a conta do mecânico; o romance que tenho guardado na gaveta; os gritos e palmadas que dou às crias, quando perco as estribeiras; a brutal realidade da minha mãe me ter sido roubada tão cedo e de forma tão violenta; a absoluta insanidade de nos termos de resignar com o facto de que toca a todos e que a maior parte de nós morrerá assim execravelmente; o facto da minha vida se ter virado ao contrário após a sua partida: natais amargos, verões frios e netos orfanados. Enfim, um último golinho para empurrar este aperto no peito, esta acidez no estômago, esta ansiedade sempre a arder cá dentro, como um terrível fantasma que me estremece ainda quando passa uma ambulância, a sirene que cá dentro é medo de perder.
14,5 graus alcoólicos e um silêncio delicioso, banhado de chocolate preto.
Não peço a Deus o café para agir. Tenho felizmente o vigor para levar tudo à minha frente, com coragem, resiliência e força. Peço-lhe clarividência e a manutenção desta força de lutar. Agradeço mais do que peço.
Agradeço este deleite feito de cacau, silêncio e brandura vínica.
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