"Tão linda, gostas?"
"Fui eu que tricotei!
Fiz num instante, numa tarde!
Chovia tanto, fiz num instante!"
É sempre cedo de mais para perdermos a nossa mãe.
Mesmo quando já não tem força para nos dar colo,
ou quando já nos ouve mal
ou quando já mal nos ouve
levada para um íntimo sonambulismo
cardado e impermeável.
"Era laranja,
a malha da camisola!"
A gente qué-la connosco.
Mesmo assim.
Mesmo sem conseguir verbalizar que nos ama.
Porque os tubos da doença a impedem
ou porque as palavras se perderam dentro dela
num labirinto indecifrável
e saem num eco-eco-eco-E-CO
desconexo.
"Já te contei que uma vez tricotei uma camisola laranja?"
A gente não quer perder
aquele fio da primeira voz que nos falou ao ouvido
aquele murmúrio dos tempos em que éramos meninas
aquela vida que nos deu vida
nem quando já só é um fantasma de amor.
"e daquela vez que eu fiz uma camisola laranja para a minha filha?
Sabes que eu tenho uma filha, não sabes?"
Pois fiquem sabendo que ando com vontade de comprar uma certa camisola de cor laranja (até tem marca e tudo: Carolina Herrera). Claro que não posso dizer a marca da camisola porque senão este meu comentário seria considerado publicidade.
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