sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Perplexidades

O cancro é fodido,
ponto. 
Morrer precocemente, 
deixando filhos pequenos e uma mulher que ama, 
é brutal, incongruente, chocante, dilacerante e absolutamente insano. 

Não faz sentido nenhum. Estamos todos de acordo.

Justiça divina, se a há, é muitíssimo ininteligível nestes momentos. Um gajo zanga-se com Deus.

Ainda hoje, ao pé do Náutico, na Póvoa, vi um farrapo humano, um concentrado de fatalidades e expoente máximo de probabilidades de morte- toxicodependente, escanzelado, tuberculoso, frágil, a cair... e que resiste. Não é que a vida humana não me mereça respeito, até nessas formas limites, mas dá que pensar: como é que esta pessoa se aguenta e o meu vizinho do lado, sem comportamentos de risco, sob um tecto, com alimentação regular, higiene e cuidados de saúde... sucumbe?

É pá! 
Da-se!

E, todavia, esta tragédia aproximar-me de alguém, fazer-me sentir sentido, fazer-me sentir pertinente nesta centelha de tempo e espaço que o acaso nos fez vivenciar... a dor trazer-me uma amiga...

A minha cabeça não entende, mas o meu coração enche-se de amor e sente uma razão para ali estar.
 Não compreendo, mas mesmo assim, Aceito e agradeço.

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