quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Abraçar árvores

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É daquelas coisas que a gente lê de soslaio no Facebook, quando anda com o dedinho scroll down, scroll, scroll página abaixo.

Eu já tinha lido algures que uma qualquer celebridade excêntrica tinha a paranóia o hábito de abraçar árvores e alegava vir daí o seu bem estar interior.

Essa informação ficou algures perdida no meu disco rígido e foi este ano, no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, que me surgiu o ímpeto de abraçar uma daquelas bem espessas, com um diâmetro impossível de abarcar.

Depois de abraçar uma, apetecia a floresta inteira.
Eu e os meus filhos lá andamos a enlaçar troncos, a fazer festas e a sentir uma miríade de texturas e de cheiros:  dos líquenes, dos musgos, da cortiça, das arestas, do verde, do oxigénio, da madeira, da seiva...

A verdade é que aquele gesto me fez sentir tão bem - deve ser da idade, célebre não sou, devo estar a ficar excêntrica!

Que as árvores nos fazem bem, que oxigenam o nosso ambiente e tudo isso, eu já sabia. 

Agora, que efectivamente podem mudar o nosso estado de espírito, as energias (ou  seja lá o que for) - foi novidade.

A mim, fez-me sorrir. Senti-me muito bem, assim naquele enleio, no colo de um ser que já habitava esta terra muito antes de eu nascer, naqueles jardins de serenatas, amores, noites de boémia e tardes de estudo. 

Este verão, o pulmão da terra está a arder.
E, de repente, o meu cérebro juntou estas duas imagens:
o abraço do grande carvalho e a Amazónia a arder.

Parece-me que a insanidade maior é esta última, não a primeira.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Desfile da Mordomia (Viana do Castelo)

Viana: Plataforma digital abre  desfile da mordomia ao mundo
Ser minhota - natural e de coração -
e nunca ter ido às festas das Sra da Agonia
é imperdoável.

Hoje fomos ao Cortejo da Mordomia e arrependimento só mesmo destes anos todos sem lá ter ido!

Os nossos gigantones e cabeçudos, o suor e o esforço daqueles homens para envergar tal estrutura e peso debaixo do sol de Agosto!
Os Zés Pereiras, os bombos, as bandas -tudo a rufar para aclamação da assistência!

E as mordomas! A beleza, os sorrisos, a exuberância dos trajes e, claro, o brilho do ouro!

Fomos googlar. De acordo com a Proteste, uma grama de ouro (de 24 quilates) está a valer 43,81 euros. Ora, sabendo que há por ali quem carregue quinze quilos de ouro ao peito... é fazer as contas!
São mais de seiscentas mulheres cobertas de ouro, portanto há milhões de euros a calcorrear as ruas, no meio da multidão! 

Das duas,  uma: ou aquilo são réplicas, ou a cidade está ultra policiada nestas ocasiões!

No que toca à segurança, é um privilégio viver neste país. 
Estão a imaginar um cortejo destes  no Brasil ou na Venezuela?

Absolutamente encantada com os bordados dos trajes, as meias rendadas, as socas, os coletes, as arrecadas e os brincos rainha nas orelhas, os colares de contas, os corações de Viana e toda a filigrana portuguesa a representar a natureza, a religião e o amor!
(peixes, conchas, cruzes, medalhas com anjos e santos e, claro, o coração).


Eu e a minha mãe já tínhamos combinado que havíamos de comprar um coração de Viana.
É desta! Hei-de cumprir o projecto.

Havemos de ir a Viana


quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Ansiedade

A ansiedade é exacerbada pela forma como vivemos no século vinte e um: o ritmo acelerado, o consumismo voraz, a tónica no sucesso e na produtividade.


1) Os Telemóveis e as redes sociais
Seguidores; posts; Facebook likes; Instagram.
Emails por abrir.
Sobrecarga de informação
Tenho de deixar as redes.


2) Publicidade
Todas aquelas imagens photoshopeadas. Corpos mentira. Sorrisos maxi. Felicidades instantâneas. Expectativas irreais.
Todas aquelas necessidades que nos fazem sentir. Como se vende um creme anti-rugas? Fazendo-nos sentir velhos. Como se vende um iogurte light ou bio ou proteico? Fazendo-nos sentir gordos ou em baixo de forma ou com as defesas em baixo. 
Há muito tempo que percebi que isso me perturbava e deixei de ver televisão. 

3) Notícias
Guerra. Terrorismo. Incêndios. Catástrofes naturais. Crises humanitárias.
Claro que a gente sabe que essas coisas existem e sempre existiram pela história fora. No entanto, agora somos bombardeados por imagens violentíssimas de tudo isso ao minuto, no minuto - em directo. 
Uma mulher da idade média esperava meses por um mensageiro que atravessasse dois continentes a cavalo ou em naus com notícias do seu amado, marido ou filho. Isso deveria, certamente, ser motor de ansiedade. No entanto, no seu imaginário, o perigo era apenas algo de fabulado, não visual e presente.
Um homem das cavernas sentia stresse ocasionalmente quando em perigo. Tempestades, um animal feroz, uma avalanche. Um homem da idade moderna lida com isso tudo globalmente - os flagelos todos do planeta todo a toda a hora.
Já disse: deixei de ver televisão. 


4) Evolução tecnológica.
Manter-se actualizado num mundo de constante inovação: máquinas, gadjets, software.
Penso não ter como manter o passo, assumo ficar ultrapassada.

5) Cidades sobrelotadas. Planeamento urbanístico nulo ou desumano. Transportes públicos a transbordar. Espaços comerciais à pinha. 
Vim viver para a aldeia, à beira-mar.

6) Distração constante
As séries que temos de ver. 
Os livros premiados que devíamos ter lido. 
Os filmes a não perder. 
Todas as estrelas famosas de quem nunca ouvimos falar. 
24/24
Às vezes, é tão preciso só ser. Estar ali. Respirar. Não fazer nada. Existir.

7) As alterações climáticas. 
Os alimentos geneticamente modificados. 
Viver num mundo poluído.
A lista não tem fim.
Há tanto com que nos preocuparmos para além dos nossos horários a cumprir, contas a pagar e frigoríficos a encher...

Talvez a ansiedade seja inevitável no mundo moderno. 
No entanto, há escolhas no estilo de vida que podem atenuar esta voracidade moderna.
Eu vou fazendo algumas. A ver se minimizo este constante aperto no peito e falta de ar.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Sérgio do Fôjo

Faz hoje um ano fui ao Fôjo com o Renato. Claro que isso deu azo a uma publicação do género "só me trazes a sítios finos", mas a verdade é que eu gostei muito de lá ir.
Nenhuma descrição de foto disponível.

Quem não sabe do que falo, um bar especial em Fão, espreite no face (Fojo)

Mal sabia, que a mítica do espaço terminaria, uns meses depois, com a morte do poeta que o construiu a pulso, o Sérgio.

O Sérgio, naquela noite, conversou muito connosco - chegamos cedo, fomos talvez os primeiros clientes. Falou-nos de Fão, da sua infância, de Deus, de vida, de Amor, de injustiças sociais, de sanidade, de irreverência. 

Contou-nos, por exemplo, que quando se deita, nunca deixa os dois sapatos alinhados à espera dos pés. 
Porquê?
O Sérgio era a essência do questionar. Nada na vivência dele era tácito, regularizado ou conforme.

Explicou.
Ponho um sapato ao lado da cama, o outro atiro com ele - para ter de o procurar.
A cabeça é preguiçosa e faz tudo sem pensar.
Pois assim um gajo tem uma razão para se levantar da cama.
Tem de ir procurar o sapato que falta.

Como dizia o Renato, livre - um dos homens mais livres que já conhecemos.
Poeta. Escritor. Filósofo. Genuinamente nosso e português.
Fangueiro sempre. Ora leiam:

"Vou-me diluíndo 
De um corpo para um vulto,
Entre um e outro suspiro, fingindo,
Num compasso indulto,
Na noite fangueira!
Vou largando a amarra,
Do rebordo de uma pedra,
Ao som da corrente passageira,
O Cávado se medra,
A vida se atenua quase inteira...
Mergulho no imenso dos teus olhos
E imprimo o passo em teus becos e cangostas!
Ó FÃO, adorno- te de páginas tíngidas e rendados folhos,
De sussurros e ecos sem respostas!
Quase a nú e no abismo do silêncio,
Onde o ruído tem mais volts que a força do teu mar,
As palavras são tão poucas e sem essência
Para num soneto ou num verbo teu nome glorificar!
No chafariz da minha vida,
A bica da Fonte do Bom Jesus
Enxagou sempre lágrimas de uma ou outra ferida,
Como o Senhor dos Passos,também carrego a minha cruz!
Só o bravio do teu pinheiro manso
Se vergava numa vénia de importância,
Quando o vento não dava descanso
À tua beleza e à tua fragância!
Só no seio da minha mãe querida,
E no leito do aconchego de seu abraço,
Senti outro tão grande amôr sem medida,
Ó FÃO que te embalo e de mim és um pedaço!
Já não sou espelho
Mas sombra de mim!
Também não sou um velho,
Meu espírito viaja sem fim!
Sou,por enquanto,um traço
Que se esvai na noite cerrada.
Cansado mas ainda a passo
Canto o fado ao toque das cordas da minha guitarra!
E junto à Ponte,no antigo Estaleiro ,
Arrasto-me na ilusão,
De viver a fundo o tempo inteiro
E de te amar eternamente FÃO!"
Sérgio do Fôjo
Mónica Cardoso Cardoso
Betânia Cardoso
15/12/2017
"Sérgio e Fão"
O Sérgio escrevia compulsivamente, compunha fados, era um pensador.
Defendeu o Cávado  e Fão com o coração.
Gritou pelos pescadores, pelas varinas, pela natureza, pela justiça.
Honra em tê-lo conhecido.
Recordá-lo-ei sempre pela irreverência e o espírito livre.

Lembrá-lo-ei sempre que for alimentar os patos e os gansos do Cávado.
(foi o Sérgio que primeiramente os lá colocou, respondendo em tribunal por isso)

E sempre que os meu sapatos estiverem descasados.


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domingo, 4 de agosto de 2019

#aosESSESstyle


Viver em Esposende e não bicicletar é como  ir a Veneza e não andar de Gôndola!

Ora eu toda a vida fiz desporto, mas quem me conhece sabe que as duas rodas não são o meu forte! Digamos que não tenho assim grande equilíbrio e tenho tendência para andar aos ESSES...
😆😅😂

Como diz a minha mana, pudera, uma bicicleta em cima de outra bicicleta!!!
😜😆😆

De modos que... há dois dias que ando a ter aulas de ciclismo com a minha filha,
o que já resultou 
num portão abalroado, 
um joelho esmurrado 
e muitos sustos para os gatos da vizinhança!

No primeiro dia, eu disse-lhe "Vens atrás da mãe"
Mas ela rapidamente percebeu que isso não era para sua segurança, era para sua segurança! 😂
Quer dizer, não era para protegê-la dos outros; mas para protegê-la de mim!

A meio desse curto passeio, a Mary decidiu que me ia "ensinar a andar".
A verdade é que há anos que não rolava sem ser em bicicletas estáticas nos ginásios, 
o que não tem nadinha a ver.
Portanto, agora é ela quem me treina: "Levanta o braço direito para indicar que vais virar!"
E eu: "Não posso! Se tiro a mão do volante, estampo-me!"

Ela: "Ó mãe, segue a linha do chão e vai direitinha!"
Eu: "Tu achas que eu ando aos ESSES por opção?"

Faz-me lembrar um episódio, aqui há uns anos no Algarve.
(Não consigo contá-lo ou escrevê-lo sem chorar de rir)
Eu aluguei uma bicicleta para ir para a praia.
Os miúdos eram mais pequenos, por isso o Renato levava-os e às tralhas (baldes, forminhas, toalhas, lancheira, protectores, bóias, eteceteras) de carro e eu ia lá ter.

Eu gostava muito daquele intervalo de tralhas. 
Sentia-me livre durante um bocadinho.
Sentia que ainda estava jovem e em forma! 😂
(Mas a verdade é que a forma como conduzia era pouco... linear!)

Então lá ia eu, bikini, túnica de praia, 
seda transparente e esvoaçante
pelas ruas da vileca fora,
aproximo-me do café dos pescadores
onde na esplanada há sempre locais a esvaziar umas bejecas e a fumar umas beatas de ar manhoso,
locais quase sempre pescadores seniores (aposentados?)
despenteados, de pele tisnada e ar alcoólico 
Aproximo-me e penso
já vou ouvir uma boca do velhote bêbado 
(que entretanto me fitava de sorriso desdentado escancarado)
e não é que ele:

"Ehhhh lá! Vais c'os copos ó quê?"