Eu já tinha entendido que isto de viver na aldeia me ia exigir uma certa adaptação mental. Até já me tinha mentalizado que certamente não seria muito prático andar de salto alto pelo empedrado das ruelas do bairro rural.
Porém, continuo a ser apanhada em falso.
Parece que foram muitos anos a ser town girl!
Ir comprar limões à mercearia da aldeia é tão adequado como procurar quem venda gabardines no deserto ... porque simplesmente não há quem. Na aldeia os limões vêm do quintal do vizinho. O máximo que a senhora da venda poderá fazer será ceder-me alguns. Nas suas palavras "limões? aqui não vendemos limões, mas não se vá embora que já lhe arranjo alguns!"
Porém, continuo a ser apanhada em falso.
Parece que foram muitos anos a ser town girl!
Ir comprar limões à mercearia da aldeia é tão adequado como procurar quem venda gabardines no deserto ... porque simplesmente não há quem. Na aldeia os limões vêm do quintal do vizinho. O máximo que a senhora da venda poderá fazer será ceder-me alguns. Nas suas palavras "limões? aqui não vendemos limões, mas não se vá embora que já lhe arranjo alguns!"
Simples.
Poderia dar exemplos mil.
Logo percebi o ridículo que era o nosso alarme de telemóvel quando, às seis e meia da manhã, ele cacareja em despique com o galo da vizinha. Uma coisa é um gajo ter o cacarejar do galo no telemóvel. É giro. É rústico. Outra coisa é, de facto, o galo verdadeiramente cantar. É autêntico. Chama-nos à verdade das coisas.
Aqui não há trânsito. O máximo que temos de enfrentar é o tráfego de tractores, nas horas das lides, na hora de ponta de regresso dos campos. Tractores carregados de nabos, que rolam devagar em caminhos onde não se pode ultrapassar. Na aldeia as coisas têm o seu tempo. Não há pressas. Desacelera town girl.
Aqui na aldeia há um condomínio que nunca foi terminado e, por conseguinte, só uma moradia é que está habitada. Pois é nesse telhado que os passarinhos se concentram. Pousam todos ali, naquele telhado contíguo aos outros das casas vazias. Não pousam nessas. Reparo nisso e penso que a natureza tem a sua lógica sapiência. Pousam talvez no telhado mais quente, hipoteticamente por haver uma lareira acesa no interior da moradia. Ou porque gostem da companhia daquela família. Dos cheiros da casa habitada. Das vozes dos moradores. Talvez lhes escutem os segredos. Talvez não sejam tolos e saibam que dali poderá vir alimento.
No meu terraço é assim. Os meus filhos sacodem lá a toalha no fim das refeições e os passarinhos aparecem por lá a apanhar as migalhas. Fazemos parte do ecossistema. Isso preenche-me de uma forma que nem sei bem explicar. Dir-se-ia que era o mesmo que ir dar migalhas de pão às pombas na grande avenida central da cidade. Mas não é. Aqui, os passarinhos fazem parte da nossa família. E nós da deles. Vêm ao quintal, que é nosso e deles. Partilhado. Em comunidade.
Na aldeia há uma padaria, de que gostamos muito. Segue o ciclo da vida, com pão para dias da semana e rosca ao domingo. A regueifa marca o dia do descanso com um sabor melhorado. Faz sentido e imprime o compassado ritmo dos dias à nossa vida. Sai-se para trabalhar, para ganhar o pão, que à tardinha levamos para casa. Fico no carro e um dos miúdos vai lá, ao vir da escola. Gosto disso.
A padaria da aldeia também acompanha as datas festivas, com os doces próprios de cada época. Há bolo rei no natal, moletes no dia do pai, pão de ló na páscoa. Não é como ir a um hipermercado e encontrar tudo isso o ano todo. Há uma banda olfativa para a passagem das estações. Também gosto disso.
Os meninos vão à catequese na paróquia e vamos à missa na capela da aldeia. É uma comunidade pequena e vive-se a liturgia de uma forma mais íntima do que numa paróquia grande. Parece que quando o pároco diz "irmãos" é mais fácil sentirmo-nos parte da família cristã. Talvez por sermos menos. Não sei. Em quatro dezenas de vivências cristãs nunca tinha participado numa eucaristia em que se cantasse os parabéns e batesse palmas aos membros da paróquia. Gostei disso também. Aguçou-me o sentido de pertença, apesar de ser forasteira e recém chegada.
A tranquilidade e o sossego são reparadores. Da minha janela vêem-se ovelhinhas a pastar e ouvem-se vacas a mugir. Quando o vento empurra, cheira a vacas. Suponho que isso é uma desvantagem, ainda assim preferível ao monóxido de carbono da urbe.
Logo percebi o ridículo que era o nosso alarme de telemóvel quando, às seis e meia da manhã, ele cacareja em despique com o galo da vizinha. Uma coisa é um gajo ter o cacarejar do galo no telemóvel. É giro. É rústico. Outra coisa é, de facto, o galo verdadeiramente cantar. É autêntico. Chama-nos à verdade das coisas.
Aqui não há trânsito. O máximo que temos de enfrentar é o tráfego de tractores, nas horas das lides, na hora de ponta de regresso dos campos. Tractores carregados de nabos, que rolam devagar em caminhos onde não se pode ultrapassar. Na aldeia as coisas têm o seu tempo. Não há pressas. Desacelera town girl.
Aqui na aldeia há um condomínio que nunca foi terminado e, por conseguinte, só uma moradia é que está habitada. Pois é nesse telhado que os passarinhos se concentram. Pousam todos ali, naquele telhado contíguo aos outros das casas vazias. Não pousam nessas. Reparo nisso e penso que a natureza tem a sua lógica sapiência. Pousam talvez no telhado mais quente, hipoteticamente por haver uma lareira acesa no interior da moradia. Ou porque gostem da companhia daquela família. Dos cheiros da casa habitada. Das vozes dos moradores. Talvez lhes escutem os segredos. Talvez não sejam tolos e saibam que dali poderá vir alimento.
No meu terraço é assim. Os meus filhos sacodem lá a toalha no fim das refeições e os passarinhos aparecem por lá a apanhar as migalhas. Fazemos parte do ecossistema. Isso preenche-me de uma forma que nem sei bem explicar. Dir-se-ia que era o mesmo que ir dar migalhas de pão às pombas na grande avenida central da cidade. Mas não é. Aqui, os passarinhos fazem parte da nossa família. E nós da deles. Vêm ao quintal, que é nosso e deles. Partilhado. Em comunidade.
Na aldeia há uma padaria, de que gostamos muito. Segue o ciclo da vida, com pão para dias da semana e rosca ao domingo. A regueifa marca o dia do descanso com um sabor melhorado. Faz sentido e imprime o compassado ritmo dos dias à nossa vida. Sai-se para trabalhar, para ganhar o pão, que à tardinha levamos para casa. Fico no carro e um dos miúdos vai lá, ao vir da escola. Gosto disso.
A padaria da aldeia também acompanha as datas festivas, com os doces próprios de cada época. Há bolo rei no natal, moletes no dia do pai, pão de ló na páscoa. Não é como ir a um hipermercado e encontrar tudo isso o ano todo. Há uma banda olfativa para a passagem das estações. Também gosto disso.
Os meninos vão à catequese na paróquia e vamos à missa na capela da aldeia. É uma comunidade pequena e vive-se a liturgia de uma forma mais íntima do que numa paróquia grande. Parece que quando o pároco diz "irmãos" é mais fácil sentirmo-nos parte da família cristã. Talvez por sermos menos. Não sei. Em quatro dezenas de vivências cristãs nunca tinha participado numa eucaristia em que se cantasse os parabéns e batesse palmas aos membros da paróquia. Gostei disso também. Aguçou-me o sentido de pertença, apesar de ser forasteira e recém chegada.
A tranquilidade e o sossego são reparadores. Da minha janela vêem-se ovelhinhas a pastar e ouvem-se vacas a mugir. Quando o vento empurra, cheira a vacas. Suponho que isso é uma desvantagem, ainda assim preferível ao monóxido de carbono da urbe.
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