A gente sai de casa, às sete e vinte da matina,
e a calçada está escorregadia, orvalhada.
Não é nevoeiro,
mas sentem-se
as gotículas no ar,
entra pelas narinas,
cheira a água!!!
e a calçada está escorregadia, orvalhada.
Não é nevoeiro,
mas sentem-se
as gotículas no ar,
entra pelas narinas,
cheira a água!!!
O volante está viscoso,
as mãos pegajosas,
conduzir é deslizar!
as mãos pegajosas,
conduzir é deslizar!
De onde eu venho,
no árido nordeste transmontano,
a água é um problema.
Aqui também.
Ali porque escasseia,
aqui porque sobeja.
Afinal a Mary até tem a quem sair!
Sabia lá eu que tinha caracóis rebeldes no cabelo!
Há mais de vinte anos que os não via!
A viver no litoral jamais andarei penteada!
Estender roupa é um contra-senso! Sabem aquela sensação de absurdo, de acabar de estender uma pilha de roupa e começar a chover? Pois bem, aqui essa é a realidade a toda a hora! Um gajo sente-se tão mais estúpido quanto percebe que está a expor a roupa ao vapor perene da neblina! Para quê? Para secar?
Os vidros da escola estão embaciados, as paredes choram e as folhas de papel encravam nas impressoras devido à condensação que as faz enrugar! Dá-me vontade de rir quando as funcionárias anunciam: "Hoje não vão brincar lá para fora que está tudo molhado!"
A sério?!
Como é que elas distinguem isso?
Não está sempre???!!!!
Chover no molhado é uma expressão que foi, de certeza, inventada em Esposende.
Ou na Póvoa. Ou assim.
Se não foi, ganha todo um novo sentido - literal- nestas paragens.
Há vantagens, pois então, de viver neste ambiente aquoso:
- tenho sempre a pele hidratada;
- não preciso de regar as plantas;
- crescem-me coentros, espontaneamente, no capot do carro
Carro esse cujos pneus e escovas jamais ficarão ressequidos;
- As letras dos envelopes na caixa de correio liquidificam de tal forma
que se forem contas avultadas posso alegar que as não recebi!
- Nunca vamos ter cá em casa espumante meio seco, muito menos bruto (que é extra seco)! Melhor! Eu prefiro mesmo o doce!
- Quando aparecer bolor nalgum sítio faço negócio com a indústria farmacêutica. Alguém sabe a quanto é que está a grama de penicilina?
- Aqui o futebol é um desporto náutico!
Quer dizer, pago uma modalidade e a criança faz duas: futebol e pólo aquático.
Saio a ganhar! Que mais quero?
Como é que eu hei-de explicar?
Não é que esteja tudo MOLHADO, ENCHARCADO ou INUNDADO à minha volta, mas a verdade é que nem me atrevo a tentar TORCER as cortinas que tenho penduradas e que planeio trocar todo o calçado cá de casa por galochas de pescador! Ou barbatanas!
Quando cheguei a esta casa, dei com um aquecedor enorme encostado a um canto.
Aquecedor!!!!!
A minha feliz inconsciência da existência de um mundo liquefeito!Pensei: assim que o tempo arrefecer já te experimento.
Surpresa, surpresa!
Aquilo só fazia vento e tinha um recipiente onde, vim a descobrir, acumulava água, pois claro!
Era um mega desumidificador, que, entretanto, está de serviço permanente cá em casa, numa vã tentativa de aspirar o mar das paredes! O gajo bem que suga, suga, suga, mas parece que viver à beira-mar não lhe facilita muito a tarefa!
E o frio???? Aquele frio húmido que te enregela atá os ossos??? Não te dá saudades daquele frio que um gajo aguenta lá em cima??? è que, aí, por mais que te agasalhes, parece que estamos sempre gelados...
ResponderEliminarBeijinho :)