Saio de casa, atarantada.
São sete e vinte da matina,
está frio
e o meu cérebro ainda está meio adormecido.
Sonolenta e a contra-gosto,
mastigo a incomodidade de ir trabalhar tão cedo,
mastigo a incomodidade de ir trabalhar tão cedo,
a incomodidade de ir trabalhar!
Lembro-me da vizinha que tem a sorte de trabalhar todo o dia em pijama, ao computador,
Lembro-me da vizinha que tem a sorte de trabalhar todo o dia em pijama, ao computador,
faço planos de arranjar um emprego digital,
aconchego o casaco,
fungo o nariz arreliada,
dói-me a cabeça
ou apetece-me que me doa a cabeça
para não ter de ir trabalhar,
reparo que não engraxei o raio das botas,
mais um privilégio que tem quem não sai de casa para laborar,
quando arranjar o meu teletrabalho nunca mais engraxo as botas,
ando de pantufas o tempo todo
e rebolo no sofá,
com a manta
e o portátil
e a felicidade toda numa chávena de chá!
Levanto os olhos e, finalmente VEJO.
Alvorada deslumbrante!
Há um céu cor-de-rosa raiado de nuvens por cima da minha cabeça efervescente.
Tonalidades magníficas que o meu cinzentar rabujo ainda não me tinha permitido ver.
Uau! Pasmo, uns segundos, sem entrar no carro.
A natureza a brindar-me com a alegria e a beleza de estar vivo. Obedeço. Tenho a decência e a humildade de calar as resmunguices interiores e de reconhecer o privilégio que é assistir a este deslumbre, fazer parte dele!
Entro no carro, dou à chave. Está a dar "Amazing" dos Aerosmith.
Nem de propósito, mesmo no refrão:
It's amazing
with the blink of an eye you finally see the light
(É incrível
Num piscar de olhos, finalmente vês a luz)
Mesmo!
It's amazing
When the moment arrives that you know you'll be alright
(É incrível
Qunado chega o momento sabes que vais ficar bem)
Vou mesmo.
Obrigada pela mensagem, Deus dos céus!
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