Hoje venho falar para ti, mulher cuidadora, submersa pelas obrigações da maternidade de descendentes e ascendentes.
Estás naquela fase da vida entalada entre seres mãe dos teus filhos e mãe dos teus pais.
Estás naquela fase da vida entalada entre seres mãe dos teus filhos e mãe dos teus pais.
Desdobras-te em múltiplas e sentes que falhas, que não és omnipotente, nem consegues apagar os fogos todos de uma vez.
Queres ajudar, multiplicas gestos, atenções e afectos, mas por mais que faças nunca sentes que és suficiente. Mas, sim, és.
Quando atendes os teus pais queridos, na fragilidade da sua velhice, na autonomia que o tempo roubou, estás à altura. Os ossos frágeis, a memória que falha, os movimentos lentos, as contrariedades do corpo gasto pela vida, a natural decadência a que a passagem do tempo indubitavelmente nos destina têm eco na tua presença, nos teus cuidados, no teu afecto.
Vê se me entendes, nunca falhas, nem que falhes.
Sentes que a tua presença aos teus pais rouba presença aos teus filhos, mas é uma equação impossível ou de resolução difícil, pelo menos, no teu íntimo, se assim a colocares.
Escuta, sossega! A ausência que te pesa na alma é um legado aos teus filhos. Vão crescer percebendo que amaste e acompanhaste quem amavas até ao limite das tuas forças. Vão crescer nessa partilha. Maturar em humanismo e atenção ao outro. Vão aprender a descentrar-se; isso é tão raro nos dias de hoje e uma aprendizagem vital; talvez o melhor legado que lhes deixarás.
Quando a balança pesa ao contrário, saberão os teus pais que te educaram para seres uma excelente mãe, que está ao lado dos filhos e assume sempre essa responsabilidade.
Agora... não é fácil, não.
Esta geração cuidadora, entalada entre avós e netos, quando se assume como tal, é um exemplo de dignidade humana e altruísmo. Muitas há, da tua idade, que o não cumprem. Arrumam tudo em instituições e vão à vida, sem problemas de consciência. Os filhos na escola, que agora, convenientemente, até é a tempo inteiro; os pais nos lares, que "estão lá tão bem". Depositam a carga e vivem mais leves.
Tu, não. Vê-se-te nos papos dos olhos a exaustão premente. Profunda e pesada. Compreendo-te.
Vejo o que te propões fazer e, digo-te, é, no mínimo, hercúleo.
Para seres cuidadora tens de cuidar-te também. Arranjar "espaço", bolhas de oxigénio. Inspira, expira - renova a tua força e procura apoios. Não tens de fazer tudo sozinha. Cuidares de ti é essencial para cuidares de todos os que amas. Essencial.
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