Uma das dificuldades que tive na transição para o primeiro ciclo prende-se com a linguagem.
Não me interpretem mal. Não me refiro ao facto de eu ensinar uma língua estrangeira e de, naturalmente, eles nem sempre me entenderem e termos momentos hilariantes, comigo a fazer caretas, mímicas, sons e até o pino para que cheguem sozinhos ao significado das palavras.
Não.
O que eu quero dizer é que eles não me entendem EM PORTUGUÊS!!!!!
Porque (por um lado)
a nossa linguagem de adultos é extremamente metaforizada, cheia de imagéticas, segundos sentidos, ironias, alusões e subentendidos cujo significado absoluto eles não captam.
e porque (por outro lado)
eles são crianças, têm um vocabulário mais reduzido e, acima de tudo, estão na fase do concreto e levam à letra tudo o que dizemos!
É o caos!A verdadeira Torre de Babel!
Se disser a uma criança de oito anos:
"Põe-te no lugar dele"
(querendo apelar à sua empatia pela situação do outro)
ela é bem capaz de se levantar e de se ir sentar no lugar do colega!
Se lhe perguntar:
"Que bicho te mordeu?"
Das duas uma: ou é menina e desata a guinchar só de imaginar que há alguma aranha por perto; ou é menino e responde-me simplesmente - "nenhum". (passando-lhe absolutamente a anos luz a minha alusão ao facto de se passar algo de estranho com a criatura!)
Se tentar ralhar:
"Quantas vezes já vos disse que não brinquem com as tesouras?"
Eles são bem capazes de me responder: "Muuuuuiiiiiitas"
Em coro! E com alegria! Acreditando piamente que era essa a resposta que eu queria ouvir, continuando a acenar com as ditas tesouras, a esgrimir os objectos cortantes no ar como se nada fosse. Porque, de facto, nada foi. Em bom abono da verdade, eu NÃO dei uma ordem. Eu fiz uma pergunta!
Isso é extenuante.
Ficam-se pelo sentido literal e gimnasticar a expressão para a frieza da objectividade linguística é para mim, mulher de palavras, muito difícil.
Não me interpretem mal. Não me refiro ao facto de eu ensinar uma língua estrangeira e de, naturalmente, eles nem sempre me entenderem e termos momentos hilariantes, comigo a fazer caretas, mímicas, sons e até o pino para que cheguem sozinhos ao significado das palavras.
Não.
O que eu quero dizer é que eles não me entendem EM PORTUGUÊS!!!!!
Porque (por um lado)
a nossa linguagem de adultos é extremamente metaforizada, cheia de imagéticas, segundos sentidos, ironias, alusões e subentendidos cujo significado absoluto eles não captam.
e porque (por outro lado)
eles são crianças, têm um vocabulário mais reduzido e, acima de tudo, estão na fase do concreto e levam à letra tudo o que dizemos!
É o caos!A verdadeira Torre de Babel!
Se disser a uma criança de oito anos:
"Põe-te no lugar dele"
(querendo apelar à sua empatia pela situação do outro)
ela é bem capaz de se levantar e de se ir sentar no lugar do colega!
Se lhe perguntar:
"Que bicho te mordeu?"
Das duas uma: ou é menina e desata a guinchar só de imaginar que há alguma aranha por perto; ou é menino e responde-me simplesmente - "nenhum". (passando-lhe absolutamente a anos luz a minha alusão ao facto de se passar algo de estranho com a criatura!)
Se tentar ralhar:
"Quantas vezes já vos disse que não brinquem com as tesouras?"
Eles são bem capazes de me responder: "Muuuuuiiiiiitas"
Em coro! E com alegria! Acreditando piamente que era essa a resposta que eu queria ouvir, continuando a acenar com as ditas tesouras, a esgrimir os objectos cortantes no ar como se nada fosse. Porque, de facto, nada foi. Em bom abono da verdade, eu NÃO dei uma ordem. Eu fiz uma pergunta!
Isso é extenuante.
Ficam-se pelo sentido literal e gimnasticar a expressão para a frieza da objectividade linguística é para mim, mulher de palavras, muito difícil.
De maneiras que isso nos impede de dizer coisas como:
"não te faças de Inês" ou "não te armes em Xico esperto", sem que eles queiram saber de que Inês ou de que Xico estamos a falar!
Com ironia também não vamos lá.
No teste, uma "É para responder em Inglês?"
"Não, filha, em Japonês!"
Ela, aflita:
"Mas eu não sei Japonês!"
Suspiro!
"não te faças de Inês" ou "não te armes em Xico esperto", sem que eles queiram saber de que Inês ou de que Xico estamos a falar!
Com ironia também não vamos lá.
No teste, uma "É para responder em Inglês?"
"Não, filha, em Japonês!"
Ela, aflita:
"Mas eu não sei Japonês!"
Suspiro!
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