Previa que o Dia do Pai não fosse celebração para todos.
Sabia que nas tantas turmas que tenho algumas Xaninhas tinham perdido o pai em pequenas e viviam com uma mãe ou um avô. Sabia que divórcios e segundos casamentos complicam as coisas.
Expliquei que íamos fazer uma prendinha para o dia do pai, mas que tinha também materiais para aqueles que desejassem endereçá-la a outra figura afectuosa na sua vida: um avô; um tio; um padrasto; um amigo (friend).
Ainda assim fui surpreendida por:
1) Face a face (eu, aninhada sob a mesa dele, em voz baixa)
Queres uma para o teu pai?
Ele, irredutível. Sem raiva, mas com muita mágoa silenciosa. Não.
Se calhar ele ia gostar, ia ficar contente. Mesmo sem morares com ele, podes oferecer-lhe no dia de visita.
Não.
O menino mais caladinho da turma, o mais cooperante, o mais alinhado e responsável, o menos desafiante. Nunca sabemos o que trazem lá dentro, estes. Os que não dão nas vistas, não causam problemas. Mas têm-nos.
2)
Uma menina que não tem pai (falecido) vive com a mãe. É surpreendida pelo mano mais velho que já trabalha, noutra cidade, e a vem buscar para almoçar por ser o seu aniversário. Estava precisamente a acabar a prenda para o mano, quando ele entra na minha sala de aula para a surpreender.
Como sempre, estas coisas dão me que pensar. Que porcaria de sistema é este em que a miúda, orfã de pai, vê o mano chegar de surpresa, entrar-lhe na sala de aula quando o imaginava noutra ponta do país e ela, bem educadinha, cumpridora, "formatada" não salta de um pincho para os braços dele? Soubera eu da situação e tê-la-ia impulsionado a fazê-lo. Esperou que eu acabasse o que lhe estava a explicar, sem me interromper, para finalmente sair pela mão dele.
Confirma-se: Father's Day, assunto melindroso.
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