sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Quando a gente ainda é pior do que eles

"Professora, desculpe interromper"
(assoma-se à soleira da porta da sala de aula a dona Gertrudes, uma querida bonacheirona, cara de sol, sorriso de lua)
"Esta chave do carro é sua?"
 
"Aahh, talvez, deixe cá ver... é de um Porshe?"
 
Atenção geral, cabeças levantadas dos livros, alvoroço excitado.
 
"Uau tíxer, tens um Porshe?"
"Não, tenho um Citroen, mas se fosse a chave de um Porshe ficava com ela.!!!!"
 
 
Grandes, múltiplas e simultâneas ilações
- em histerismo multivocálico - 
sobre:
 
a) os carros que têm;
(alguns efectivamente Porshes)
 
b) os carros que a família toda até 5ºgrau, os vizinhos, os amigos, os conhecidos dos amigos deles, os jogadores de futebol e as celebridades de que eu nunca ouvi falar têm;
 
c) o carro que eu tenho;
 
d) o carro que eu devia ter;
 
e) o que aconteceria se eu ficasse com a chave de um carro que não é meu;
 
f) as chaves que a dona Gertrudes ainda segura nas mãos;
 
g) episódios diversos relacionados com chaves que a família toda até 5ºgrau, os vizinhos, os amigos, os conhecidos dos amigos deles, os jogadores de futebol e as celebridades de que eu nunca ouvi falar já vivenciaram;
 
h) episódios diversos relacionados com carros que a família toda até 5ºgrau, os vizinhos, os amigos, os conhecidos dos amigos deles, os jogadores de futebol e as celebridades de que eu nunca ouvi falar já vivenciaram;
 
i) o facto de eu ser esquecida e ter deixado as chaves perdidas algures;
 
j)...
 
I should know better! Eu já devia adivinhar... tão concentradinhos que estavam a resolver os exercícios e a dificuldade que foi, depois, voltar a controlar o motim!!!

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Sonhar em grande

O resultado de andar a ler um romance na Toscana (por sinal uma leitura de caca, mas avante) é ter tido um sonho espectacular esta noite:
 
Sonhei que estava a mergulhar num paradisíaco cenário na ilha de Capri. 😂
 
Saltava de uma formação rochosa para águas límpidas e de um azul tão cintilante como só nos filmes e a sensação era extremamente libertadora e prazerosa.
 
Tudo para acordar
para a cruel realidade de
ter de ir
para a escola...
trabalhar...
 
Imagem relacionada
Era mais ou menos isto...

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Edição de memórias - "a vida já me tirou tanto!"

"Desculpe ter passado à sua frente, não a vi! 
(eu para a dona do minimercadinho) 
Por favor, atenda esta senhora que já cá estava antes de mim"



"Não faz mal, esteja à vontade! Que mais dá?"




Eu, atenciosa a insistir que a atendessem, que tinha sido inadvertidamente.
A idosa, de lágrimas nos olhos, 

sem nenhum sinal de raiva mas com muita mágoa lá dentro,
deu-me a seguinte resposta:



"A vida já me tirou tanto que bem pode levar o tempo também..."




Apanhou-me desprevenida. 
Balbuciei coragens. 
Respondeu-me isso é para a menina que é jovem.
Atirei-lhe um lugar comum tipo "enquanto há vida há esperança", 
"um dia atrás do outro"
ou
 "há que teimar" 
e vim embora, 
desolada com tanta solidão.

(8 de fevereiro de 2017)

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

A quem possa interessar

Resultado de imagem para livro reclamaçõesCuriosamente a memória deste exacto dia no facebook era a seguinte:


Tenho-me como uma pessoa frontal, mas a idade ensinou-me a não dizer TUDO o que penso. 


De outra forma, sair-me-iam frases assim:
"Olhe, desculpe, 

a senhora sempre foi assim azeda, 
é um ressabiamento recente 
ou apanhei-a simplesmente num dia mau?"



Nem de propósito!
Estive, de novo, hoje mesmo, num balcão público onde me atenderam com má-vontade e sobranceria; onde me despacharam para a chefia se estivesse descontente; chefia pela qual aguardei civilizadamente durante uma hora, após a qual o meu vernizinho estava a começar a estalar. 
Percebi, então, que outras pessoas, menos ordeiras do que eu, estavam a ser aviadas. Percebi também que há situações nas quais, se formos muito cordatos e cívicos, tendem a não nos respeitar.
 Portanto, sem elevar o tom de voz, com diplomacia e assertividade (às vezes fico pasma com o meu próprio sangue frio) exigi que me resolvessem a questão, um direito meu, ou que, por favor, me dessem o livro amarelo. 
Palavras mágicas. Fez-se solução a velocidade cruzeiro e, como não tinham troco, nem da fotocópia necessária se cobraram!