Que nota dás a este grito de guerra, mal pronunciado, é certo, mas cheio de fervor nos braços abertos e olhos que brilham por te ver? Há mais alguém na tua vida pessoal que corra para te receber, aos pinotes de alegria? Ah, sim, o teu cão! Só mesmo esse!
Tíííxa, tíííxa:
Quanto vale aquele abraço que te dou naqueles dias em que estás mesmo a precisar?
Tíííxa, tíííxa:
Quanto vale aquele abraço que te dou naqueles dias em que estás mesmo a precisar?
Tíííxa, tíííxa:
Que nota dás aos exercícios feitos de barriga vazia, cérebro e estômago a rimar em roncos de lentidão e fome. Estavam erradas as respostas. Assinala a vermelho o absurdo da tarefa.
Tíííxa, tíííxa:
Quanto vais dar àquela menina que tem um caderninho impecável, com cores e florzinhas, copia tudo, tudinho, demorada e afincadamente; faz os trabalhinhos de casa religiosamente; mostra-te um livro de actividades extra que lhe ofereceram nos anos; nunca acerta, mas nunca desiste e chega ao teste e não concretiza?
Tíííxa, tíííxa:
Quanto vale aquele menino que está sempre a ajudar o colega de carteira, e o da frente e o de trás; que se atrasa no seu próprio texto, porque esteve a explicar ao outro o que tem de fazer?
Tíííxa, tíííxa:
Quanto vale o sorriso que te dou todas as manhãs? As confissões que te faço do meu fim de semana? Do mano recém-nascido que não deixa ninguém dormir de noite? Da minha avó que agora vive na minha casa e a quem ajudo a alimentar?
Tíííxa, tíííxa:
Em que grelha vais registar a minha aflição porque a mãe desmaiou ontem à noite e fomos parar às urgências? Em que grelha vais registar que me sinto perdido e aflito e que sinto medo de a perder?
Tíííxa, tíííxa:
Qual é a percentagem para a curiosidade, as minhas perguntas chatas, que não têm a ver com o currículo, as minhas dúvidas sobre o mundo, que não estão no teu plano de aula e te interrompem, te fazem "perder tempo" e me assolam porque penso que a escola me devia ajudar a perceber a vida, em vez de passar ao lado dela, por cima dela?
Tíííxa, tíííxa:
Em que coluna do excel consta a minha criatividade, a minha originalidade, o meu espírito artístico, a minha forma única de ver o mundo? Consegues avaliar a minha vontade de construir um mundo melhor? A minha inocência? O meu optimismo?
Tíííxa, tíííxa:
Quanto vai valer o meu sentido de humor, eu que tenho saídas hilariantes e faço a turma toda rir, mesmo nos dias em que estamos todos stressados porque há prova, ficha, teste de avaliação?
Tíííxa, tíííxa:
Tíííxa, tíííxa:
Quanto vale aquele menino que está sempre a ajudar o colega de carteira, e o da frente e o de trás; que se atrasa no seu próprio texto, porque esteve a explicar ao outro o que tem de fazer?
Tíííxa, tíííxa:
Quanto vale o sorriso que te dou todas as manhãs? As confissões que te faço do meu fim de semana? Do mano recém-nascido que não deixa ninguém dormir de noite? Da minha avó que agora vive na minha casa e a quem ajudo a alimentar?
Tíííxa, tíííxa:
Em que grelha vais registar a minha aflição porque a mãe desmaiou ontem à noite e fomos parar às urgências? Em que grelha vais registar que me sinto perdido e aflito e que sinto medo de a perder?
Tíííxa, tíííxa:
Qual é a percentagem para a curiosidade, as minhas perguntas chatas, que não têm a ver com o currículo, as minhas dúvidas sobre o mundo, que não estão no teu plano de aula e te interrompem, te fazem "perder tempo" e me assolam porque penso que a escola me devia ajudar a perceber a vida, em vez de passar ao lado dela, por cima dela?
Tíííxa, tíííxa:
Em que coluna do excel consta a minha criatividade, a minha originalidade, o meu espírito artístico, a minha forma única de ver o mundo? Consegues avaliar a minha vontade de construir um mundo melhor? A minha inocência? O meu optimismo?
Tíííxa, tíííxa:
Quanto vai valer o meu sentido de humor, eu que tenho saídas hilariantes e faço a turma toda rir, mesmo nos dias em que estamos todos stressados porque há prova, ficha, teste de avaliação?
Tíííxa, tíííxa:
Que nota merece a minha espontaneidade ("Posso ir fazer cóco?"), o meu entusiasmo com os teus jogos, aquele que me faz ficar tão excitado que a seguir tens de me ralhar porque não consigo acalmar?
Tíííxa, tíííxa:
Como avalias a minha humildade quando me chamas à atenção ou quando erro? A minha resiliência, persistência e determinação após falhar?
Tíííxa, tíííxa:
Conta para alguma coisa o sentido de liderança do Francisco, a capacidade que ele tem de nos orientar nos trabalhos de grupo ou nos jogos?
Tíííxa, tíííxa:
Esta tíííxa não tem respostas objectivas para tudo isso.
Só promete avaliar-vos com mais do que números, contas, grelhas e excels.
Avaliar-vos também com o coração e desejar que a Escola, no futuro, cresça para um modelo mais humano que vos avalie globalmente no cumprimento do objectivo mais válido do ensino-aprendizagem: a vossa felicidade.
“Janeiro,
11 [de 1949] - Para começar, o metodólogo falou connosco durante uma
hora. De acordo com o que disse, vão ser as aulas de Português o que eu
gosto que elas sejam: um pretexto para estar a conviver com os rapazes,
alegremente e sinceramente. E dentro dessa convivência, como quem brinca
ou como quem se lembra de uma coisa que sabe e que vem a propósito, ir
ensinando. Depois, esta nota importantíssima: lembrar-se a gente de que
deve aceitar os rapazes como rapazes: deixá-los ser: 'porque até o
barulho é uma coisa agradável, quando é feito de boa-fé.'
Houve
nesta conversa uma palavra para guardar tanto como as outras, mais que
todas as outras: 'O que eu quero principalmente é que vivam felizes'."
Sebastião da Gama. Diário (1958)
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