A mim, diverte-me.
Enquanto elas adiantam as lulas para o almoço, ou fazem as sandes ou besuntam os miúdos de creme protector, a eles toca-lhes ir aviar a lista de compras, que elas alinhavaram, com laivos de malvadez para lhes infernizar a vida. São mais os avôs, homens daquela geração que não mexeu uma palha a vida toda e que tem agora, no outono da vida, de carregar os fardos todos!
No outro dia, aflitos, a conferenciar em frente à banca da fruta.
"Só há brancas...", desesperava um.
"Levamos destas...", arriscava o outro.
"Mas elas disseram pretas..."
"Então, não levamos nenhumas, dizemos que não havia..."
"Eh pá, isso não! Que ainda levo nas orelhas..."
O drama é real. Arriscaram uns cachos de uvas brancas. Eu, ri-me. Trocámos um sorriso cúmplice. Empatizei com eles. O mulherio é do piorio. Fosse qual fosse a decisão que tomassem, levariam nas orelhas de qualquer forma! Lol.
No dia seguinte, na peixaria. Ele, capaz, convicto, claramente orgulhoso da sua performance, a desempenhar a tarefa com brio e assertividade:
"Eram quatro carapaus, se faz favor!"
Ma-gis-tral.
A peixeira é que estragou tudo:
"Amanhados?"
(naquela pronúncia algarvia, cuja entoação é sempre interrogativa, mesmo quando o não é; neste caso, era.)
(naquela pronúncia algarvia, cuja entoação é sempre interrogativa, mesmo quando o não é; neste caso, era.)
Bloqueou. "E agora, que é que eu digo?"
Sem dúvida os primeiros carapaus que comprava na vida.
Saltei em seu auxílio. Sussurei-lhe "amanhados, amanhados", certa de que a ela não lhe apeteceria esventrar peixe ao vir da praia e rezando para que o meu conselho não trouxesse (mais uma)discussão conjugal!
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