Porque estive na "nossa" praia, porque é verão e pessoas me voltam a falar de ti, porque a saudade aperta. porque se aproxima a data do teu aniversário, não sei.
Há dois dias que tenho o mesmo sonho. Um pouco absurdo, como próprio do onírico, mas nítido e perturbador.
Vejo-te na praia, banhada de luz, sob um sol intenso, a fazer um valente serviço de volleyball em suspensão.
E é ali. Aquele momento. Suspensa no ar, acima da areia, com um movimento pujante do pulso direito que te me traz à consciência e simultaneamente me acorda.
Desperto banhada em suor, com um aperto no peito e confusa, embora, durante o sono, não se trate de um pesadelo; pelo contrário, é uma alegria ver-te ali suspensa a jogar.
No entanto, acordo confusa...desapontada por não ser real, por ser tão curto, por terminar. Na vida real não jogavas volley, mas não é que não aceitasses o desafio, se to colocassem.
Por outro lado, tu representas para mim aquela energia, aquela vivacidade, aquela força. Por isso, no final do sonho há aquele amargo de boca que a vida nos deixa quando morre alguém muito jovem ou um atleta ou um herói. A gente resigna-se, mas não deixa de pensar que havia ali tanto potencial perdido.Acho que é por isso que me sinto tão incomodada ao despertar.
Todavia, não me queixo. Durante anos estive presa à tua cama de hospital. Percebia o quão traumático isso havia sido para mim, mas irritava-me não conseguir recuar para milhares de experiências igualmente intensas, mas mais agradáveis que partilhámos enquanto mãe e filha.
Agora, ao menos, vejo-te banhada de luz boa, suspensa e em acção.
Recebo e agradeço. É tudo o que preciso nesta fase.