sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Pinta vermelha

Eu hoje vou ser rápida.
Imagem relacionadaNuma pincelada descrevo a forma como vejo o Carnaval.

Entro numa sala de aula colorida, cheia  de sorrisos expectantes  por trás de camadas e camadas de maquilhagem. Estão mascarados e esperam, ansiosos, pela minha reacção.
Vou dizendo, com um sorriso, "Good afternoon! So many princesses! And pirates!Uau and a policeman! Uuuhhh scary monster!Ena! Uma sala cheia de personagens estranhas! O que fizeram aos meus alunos? Onde estão os meus meninos?
Eles riem-se, pueris, aliviando o nervosismo da expectativa de me mostrar os fatos!
Chego à minha secretária e sinto a mão de um deles no meu ombro.
"Olha, teacher, gostas do meu disfarce de palhaço?"

Levanto o olhar
 e
gela-me o coração.
Não há um  traje, uma peruca, uma boca pintada de branco, o costumeiro nariz redondinho de borracha rubra. Nada; à excepção de uma singela pintinha vermelha na ponta do nariz. Penso: pintaste-a tu com a borrona, nem batom é... e de imediato penso também: e vieste perguntar-me se gosto do disfarce, antes que te perguntasse pela ausência dele... uma gigante onda de compaixão inunda o meu coração. Brinco. Sai-me qualquer coisa para aliviar o sofrimento (o dele e o meu):
"Que belo palhacinho! (afago-lhe os caracóis desalinhados) Nem era preciso um grande disfarce porque todos os dias nos fazes rir! És o nosso palhacinho, não és?" Ele ri-se, com um trejeito do rosto e olhar maroto, sem saber muito bem se há-de orgulhar-se ou envergonhar-se da reputação. Apercebo-me que, se calhar, não foi a coisa certa para dizer. Tento emendar. 
"E eu, sabes de que venho mascarada?"
(eu não ia mascarada!)
"De bruxa má! (faço um riso cavernoso!)
"De professora bruxa mazona! Que é o que eu sou todos os dias!!!!!!"
"Não é naaaaaaadaaaaaaa!", apressam-se a corrigir-me em coro e querem abraçar-me em massa.


 A aula acontece. À saída surpreende-me um vestido cantante. As coisas que eles inventam! É um traje de princesa. A miúda carrega numa ametista que traz no vestido e aquilo começa  a cantarolar... elogio-lhe o vestido azul, mas é a pinta vermelha que não me sai da cabeça!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

TRAPPIST -1


Ali.
Já ali.
À distância de apenas 40 anos luz do planeta terra,
está um grupo de sete planetas, potencialmente habitáveis.

Parece que é chegada a hora de "dar novos mundos ao mundo", como dizia O nosso poeta*.

Descobertos ontem, estes sete mundos do sistema Trappist 1**, pertencem à constelação Aquário e aparentemente têm todas as condições para serem primos afastados da nossa Terra.

São sete mundos.
Do tamanho do nosso.
À volta de uma mesma estrela.
Podem ter água potável.

Speechless. Deslumbrada.



(*Camões para quem andar distraído)
 (**Transiting Planets and Planetesimals Small Telescope)

Podem ler mais aqui onde eu li.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Aquário

Resultado de imagem para fish bowl, clipart Todas as terças e sextas vou à Piscina Municipal levar a pirralha à natação. 

Calha nos dias em que eu própria já treinei, por isso, sento-me num sofazinho confortável na grande sala de espera... à espera.

Por mais semanas que passem, nunca deixo de me surpreender com a horda de pais e mães colados aos vidros da piscina, a assistir às aulas.

Como se fosse um aquário gigante para peixinhos amestrados. 

A mim, aquilo, faz-me um bocado de confusão. 

Em primeiro lugar, como professora não me agradaria NADA dar aulas em fato de banho a meio metro de olhinhos parciais que vêm sereias e golfinhos mimosos onde, se calhar, por vezes, só há cardumes de piranhas!
Não sei, digo eu. Certamente não me agradaria trabalhar sob o voyeurismo alheio. Como possivelmente nenhuma daquelas pessoas gostaria de se sentir assim observada no seu ambiente profissional.

Em segundo lugar, não sei muito bem que tipo de impacto terá essa assistência no desempenho das próprias crianças. Estimula? Desmotiva? Pressiona? Distrai? Tenho para comigo que, mesmo aos pequenos nadadores, a presença esborrachada dos pais contra os vidros não há-de fazer falta nenhuma...

E, por último, mas não menos importante:
Hooooooraaas desperdiçadas.
Desperdiçadas.
Que confusão isso me faz!
Olho à volta e vejo ventres proeminentes e bundas avantajadas, todos a precisar de umas boas braçadas! Porque não vão para o tanque do lado pôr as mágoas de molho e desentorpecer as perninhas? Ou ocupam o tempo com algo útil? Por exemplo a tricotar-lhes um gorro quentinho para quando saírem dos treinos protegerem os ouvidos da geada brigantina? Eu já li livros inteiros durante os treinos da minha filhota!

Get a life!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Paixão nas redes!!!

Diz-se que "Os casais felizes não se expõem nas redes sociais". 
Resultado de imagem para selfie of happy couple, clipart 
Pois isso a mim cheira-me a desculpa de mau pagador, ressabiamento, despeito ou má consciência. 

Ah e tal, porque "é fachada", porque "não é preciso", porque "não é isso que..." etecetera e tal.

Sim, é verdade que o Facebook está cheio de mesas postas e corações vermelhos e poemas e declarações de amor, em dia de São Valentim e que, necessariamente, nem todos os gestos estarão carregados de genuinidade e verdade. Certo. Isso não equivale a dizer que nenhuma dessas manifestações é verdadeira.

Aliás, com a quantidade de publicações amorosas e apaixonadas que vi, só pode haver algumas que são verdadeiro fruto de paixão!

  Concedo que, a estar verdadeiramente apaixonadíssima, a pessoa prefira estar com quem ama do que escrever a quem ama numa rede social ou terá mesmo as mãos tão ocupadas que não tem oportunidade de fotografar e postar nada!

Mesmo assim refuto a premissa por extremista. "Os casais felizes não se expõem nas redes sociais". 
É que, pensando bem, os infelizes também não!
 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Autástico

Resultado de imagem para autasticLembram-se do meu menino perturbado, de ranhinho no nariz, sempre a balançar o corpo de um lado para o outro,  a esconder-se debaixo das mesas ou a enfiar-se de cócoras no canto mais recôndito da sala de aula?

Aquele que foi retirado a uma família e atirado para uma sala de aula nova, sem papéis que o explicassem, porque o "processo" chegou muito mais tarde?

GRANDE conquista, hoje! Mais de dois meses volvidos após a sua chegada, hoje - trabalhou! Trouxe-me de casa um desenho com um grande cão desenhado e um título todo colorido em letras gordas como eu lhes ensinei. Dizia MY PET. Rejubilei.  
"Olhe, professora, tíxa, tíxa, olhe o mI pet!", a correr, de desenho na mão, a receber-me no hall da escola para me abraçar, para COMUNICAR!!!!!!!

Não precisei de "processo" nenhum para intuir que o mutismo, a dificuldade de  comunicação, as unhas roídas até à ferida, os fechos do casaco comidos pela ansiedade, o abanar-se para a frente e para trás e os guinchos súbitos tinham um nome - autismo. E para ver que era uma criança transtornada e emocionalmente débil. Peso pesado.

Sem nenhum tipo de auxílio extra em sala de aula e numa turma particularmente complexa, fui levando, como podia. Ora com abraços, ora com repreensões, mas sempre com dificuldade, posto que não escreve e praticamente não lê (na língua materna). Acresce ainda que não foi bem recebido e é frequentemente envolvido em atritos, quer como vítima, quer como agressor. Com todos estes obstáculos, normalmente oferece muita resistência a trabalhar. (Pudera, se me mandassem conduzir um Porche sem que eu tivesse carta de triciclo...)

Hoje, miraculosamente, uma aula inteira a trabalhar. Escreveu EM INGLÊS e por extenso os números de 12 a 20. A copiar, claro. Mas com esmero e a solicitar-me e a pedir reforço "está bem?"

Claro que está, querido. Muito orgulho no teu esforço. Parabéns.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Tipos de Mães

Há nove anos que sou mãe. (xiiiii!!!)
Isso pôs-me em contacto com mulheres de várias formas e feitios com as quais provavelmente a minha vida não se cruzaria da mesma maneira ou não se cruzaria de todo, se não tivéssemos todas isso em comum - sermos mães.
Em todas as escolas,  há pelo menos uma de cada das que descrevo a seguir. Amigas, acusem-se!

1) A mãe-desgrenhada-de-fato-de-treino 
E/ Ou 
flanelas descosidas;
jeans puídos;
casacos de lã polar dos maridos;
calças de pijama...
A primeira coisa que encontrar.
Também pode trazer leggings e vem sempre de rabo de cavalo (ou de mola na nuca)
Mas atenção: não confundir com a número 8). Aqui o outfit desportivo não implica fazer desporto.

2) A mãe vegan-hippie
É a mãe da Aura, da Lis ou da Íris, irmã do Noah ou do Gael.
Usa saias compridas, peças tricotadas e acessórios artesanais em couro.
Tem cabelos hiper longos (ou super curtos) e os anéis em dedos que não o anelar.
Os lanches incluem iogurtes de soja, fruta biológica, granola e pão Kamut, tudo acondicionado em sacos de tecidos orgânicos e garrafa reutilizável!

3) A voluntariosa
 Esta parece que vive na escola!
Sempre que a gente vai à escola, mesmo fora de horas (porque o nosso mais velho se esqueceu da flauta e vai ser avaliado) ela está lá!
É o braço direito das professoras e o esquerdo das funcionárias.
Tanto produz adereços e cenários para a festa de natal, como costura impecavelmente para o Carnaval. Ela ajuda na cantina, ela tem um projecto de uma horta nas traseiras da escola com os meninos do quarto ano e ainda lhe sobra tempo para ir contar historinhas ao pré-escolar!

4) A perfeccionista
Ela aparece para ir buscar as crianças num carro imaculado!
Maquiada, bem vestida, com as unhas de gel reluzentes a segurar a carteira em pele de uma marca cara.
O filho aparece  limpinho e penteado, sapatos de vela e pullover como quem não jogou futebol o dia todo. A filha, toda frufrus, tules e ganchinhos a condizer, é delicada e meiga e aparece serenamente de sorriso nos lábios, sem um fio de cabelo fora do sítio.
Ambos têm mochilas personalizadas com os devidos Martim e Constança bordados. Ah, e, claro, lancheira a condizer!
Lá vão felizes e contentes para actividades de complemento curricular tipo cursos de mandarim, ballets, pianos e clubes de xadrez!

5) A spidada
Ao contrário da "voluntariosa", esta parece nunca ter tempo para nada. Anda sempre a correr, mal lhe pomos os olhos em cima e é difícil marcar reunião de encarregados de educação por causa dela. Mesmo aí, não larga o portátil, onde vai adiantando trabalho para o dia seguinte. Fuma, fala com velocidade e é muita amiga da máquina de vending, de onde tira frequentemente café e chocolates.


6) A serôdia
Encosta em segunda fila em frente à escola com uma guinadela. Corre portão dentro, enfiando umas coisas à pressa na mochila do puto, quinze minutos depois da campainha ter tocado. Todos os dias.

7) A rainha da cusquice
Sabe tudo. TUDO! Ninguém está a salvo da profundidade dos seus "conhecimentos". Do guarda-nocturno à senhora Directora, esta mãe tem um registo completo de ocorrências e arquivo nada morto.

8) A sexy
É o verdadeiro avião. A boazona. Tem um corpo de parar o trânsito.
Aparece com leggings justinhas e t-shirt caveada, semeando  sabores e dissabores.
Os pais oferecem-se para ir buscar os filhos à escola. As mães invejam-na e apostam, intimamente, que só pode ser mãe adoptiva, que nenhum corpinho passa por uma gravidez e volta a ficar assim, mesmo seis anos mais tarde!!!!

P.S:
O seu a seu dono. A criatividade, desta vez, não foi (toda) minha. A fonte é a seguinte. Se tiverem curiosidade leiam o original aqui.